"Tanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão, deve ter sido a marchinha mais cantada este ano no Senado. Agora que acabou o Carnaval, descobrimos que os senadores colocam dentes a peso de ouro e pedem reembolso de até R$ 70 mil. No país dos desdentados, um sorriso caro e debochado. Enquanto isso, usuários do Sus penam para conseguir uma prótese dentária que lhes permita voltar a sorrir sem levar a mão à boca de vergonha.

Farra dentária com pinos de ouro

Bancada pelo contribuinte, a farra dentária em Brasília tem requintes dignos de reis e sultões: coroas cerâmicas e pinos em ouro odontológico decoram a boca de alguns parlamentares. Em Porto Alegre, além do ensino da escovação para evitar a cárie, do flúor e da obturação, serviços de média e alta complexidade até melhoraram, mas ainda estão longe do alcance da maioria da população. A Secretaria da Saúde fornece cem próteses por mês, mas o tamanho da fila é um mistério.

Vergonha de sorrir, medo de comer

Segurança de um centro comercial, Eduardo Valsir Pires, 32 anos, é casado e pai de dois filhos. Na boca, apenas sete dentes e um vazio que espera até hoje por reposição.

- Fui no posto uma vez porque estava com dor de dente, mas ninguém me orientou sobre a colocação de próteses - afirmou Eduardo, que pediu para não mostrar o rosto.

Já a técnica de enfermagem Maria Magna dos Santos, 44 anos, também fotografada de costas a seu pedido, corrigiu provisoriamente uma falha no dente frontal. Ele quebrou após uma queda de bicicleta e foi colado, mas ela ficou com limitações.

- No posto, me disseram que não fazem esse serviço (ela teria de colocar uma coroa de jaqueta dentária). Não posso comer frutas nem carnes porque, se  morder, o dente cai.

País de banguelas

No Brasil, poucos são os que podem exibir os 32 dentes originais, exatamente como Deus nos deu: oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e 12 molares. Segundo as estatísticas, o universo de desdentados não é pequeno e tem causas conhecidas. Metade das crianças de até 12 anos têm cáries, e a necessidade de próteses começa a surgir na faixa dos 15 aos 19 anos. Levantamento feito em 2008 pelo IBGE, nos 31 municípios da Região Metropolitana, mostrou que 348 mil pessoas (8,6% da população) nunca haviam ido ao dentista.

Os números da Saúde municipal

Embora não tenha divulgado o tamanho da fila de espera por próteses dentárias, Porto Alegre avançou neste serviço. Além de contar com 155 cirurgiões dentistas que atuam em 122 unidades de saúde com atendimento odontológico, a Capital dispõe de seis centros de especialidades odontológicas (quatro municipais e dois conveniados), dois serviços de pronto-atendimento e dois de atendimento a traumas.

Tipos de atendimento: básico, especializado e de urgência, sendo realizadas ações de prevenção, promoção, tratamento e reabilitação em saúde bucal.

Tipos de tratamento: restauração, tratamento de gengivas, raspagem de tártaro, aplicações tópicas de flúor, curativos, extrações dentárias, exames radiográficos, tratamento de canal, tratamento das gengivas, cirurgia bucomaxilofacial, diagnóstico e tratamento de lesões bucais, prótese dentária, atendimento a pacientes com necessidades especiais, entre outros.

Serviço de próteses dentárias: 

O município conta com seis Centros de Especialidades Odontológicas. Pacientes são encaminhados pelas unidades básicas de saúde.  

CEO IAPI: na Rua Três de Abril, 90 (atende distritos Noroeste, Humaitá e Navegantes).

CEO Santa Marta: Rua Capitão Montanha, 27, 2º andar, Centro.

CEO Bom Jesus: Rua Bom Jesus, 410, esquina Rua São Felipe, Bairro Bom Jesus.

CEO GCC: Vila dos Comerciários, na Rua Moab Caldas, 400, Bairro Santa Tereza.

CEO do Hospital Conceição: Rua Francisco Trein, 596 (atende os distritos Norte, Eixo Baltazar e Nordeste)

CEO da Ufrgs: Rua Ramiro Barcelos, 2492 (Os pacientes são encaminhados após atendimento no Centro de Saúde Modelo, na Avenida Jerônimo de Ornelas, 55, Bairro Santana, e na UBS Santa Cecília, na Rua São Manoel, 543, Bairro Rio Branco.