Falta de professores
Novo ano, velhos problemas nas escolas da Capital
Enquanto professores aprovados nos concursos não tomam posse, alunos ficam sem aula, permanecem na escola só em meio turno ou sofrem com a superlotação nas salas
A vendedora Gabriela Machado da Silva, 28 anos, é mãe de Ana Clara da Silva Bernardes, oito anos, aluna do terceiro ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio Grande do Sul, que fica no Centro da Capital. As aulas começaram no dia 24 de fevereiro, mas Ana Clara só foi três dias à escola. Na quarta-feira passada, por volta das 13h30min, Gabriela estava acompanhada da filha e do marido na porta do colégio, mas Ana Clara não entrou. O problema é que duas turmas do terceiro ano estão na mesma sala de aula: 43 alunos com apenas um educador.
- A sala de aula não comporta uma turma tão grande e, por isso, temos duas opções: deixar as crianças em casa, como é o caso da Ana Clara, ou na escola em meio turno, de 13h30min às 15h30min - explicou Gabriela.
Além da falta de professores, Gabriela também reclamou da limpeza do local.
- A escola está abandonada. O bebedouro fica cheio de fezes de pombos e os banheiros com baratas. Os pais foram fazer a faxina e ficaram surpresos, pois não tinha produto de limpeza no almoxarifado do colégio - relatou.
Período de adaptação
Teris Reis, a diretora da escola, explicou que as crianças sempre passam por um período de adaptação na primeira semana, ficando menos tempo em aula. Quanto à falta de funcionários, ela disse que o problema já foi repassado para a Secretaria de Educação.
- A ausência de funcionários já foi relatada à 1ª Coordenadoria de Educação, que responde pela Secretaria. Essas demandas são normais no começo do ano - explicou.
Segundo a diretora, a escola tem seis empregados ausentes: três professores - um de inglês e dois de séries iniciais - e três servidores, duas serventes e uma merendeira. A expectativa da diretora é de que, a partir desta semana, os seis funcionários tomem posse na escola.
Seis classes sem aula
A falta de professores também atinge a rede municipal. Na quinta-feira passada, por volta das 13h, vários pais estavam na entrada da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dolores Alcaraz Caldas, no Bairro Restinga, sem saber se as crianças teriam aula. A doméstica Lucimara Guerra, 31 anos, estava preocupada, pois o filho Jeferson Rogério Oliveira de Mello, 11 anos, não entrou na escola este ano.
- As aulas começaram dia 26 de fevereiro, mas a turma dele está sem professor até hoje. Ele está em casa sem atividade e depois terá que compensar os dias perdidos nas férias - reclamou.
Debandada foi geral
Naquele dia, eram seis as turmas sem aulas, por falta de professor. A dona de casa Greicineli Sanhudo, 34 anos, levou a filha Stéfani Sanhudo, oito anos, para a escola, mas também teve que voltar para casa com a estudante. Segundo ela, a troca da diretoria da escola, no final do ano passado, gerou a saída de vários professores.
- Depois da mudança, alguns professores pediram demissão e outros solicitaram transferência. Não sei o motivo dessa atitude deles - contou Greicineli.
A reportagem procurou a diretora da escola, Eglaé Hipólito, mas ela não quis se pronunciar sobre o assunto.
Concursados chegam em duas semanas
A diretora de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Zuleica Beltrami, afirmou que, em geral, as escolas municipais de Porto Alegre têm professores suficientes para atender a todos os alunos.
- O que existe são necessidades pontuais e que dependem do bom gerenciamento do RH da escolas - afirmou.
Segundo Zuleica, a escola Dolores Alcaraz Caldas tem uma equipe diretiva (diretores, supervisores, orientadores) com 21 professores, que podem ser relocados para atender às crianças enquanto os professores concursados não tomam posse.
Quando informada que seis turmas continuavam sem aulas, Zuleica ficou surpresa:
- A escola recebeu orientações, acho lamentável que ainda não tenham tomado nenhuma providência.
São 158 convocados
A Smed convocou 158 professores: 87 de séries iniciais, 30 de educação física, 14 de português, dez de ciências, nove de matemática e oito de geografia. Todos participaram de um concurso realizado no dia 15 de dezembro do ano passado. O número foi calculado para suprir as necessidades até abril de servidores aposentados, remanejados e de ampliação de turmas. Em média, 400 professores são substituídos por ano na rede municipal, só em função da aposentadoria.
- Os concursados já foram homologados, nomeados pela Smed e a previsão é de que no máximo em duas semanas, eles tomem posse nas escolas municipais - concluiu Zuleica.
21 professores tomam posse nesta sexta
Sobre a falta dos seis servidores na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dolores Alcaraz Caldas, a Secretaria Estadual de Educação informou que será encaminhado um processo de contratação emergencial para o professor de inglês, que dura de dez a 20 dias. Quanto aos dois professores de séries iniciais, um está em processo de contratação e em até dez dias estará em sala de aula. O outro vai tomar posse no dia 14 de março. Os três servidores também estão em processo de contratação e devem começar a trabalhar em até dez dias.
A partir de abril, 500 por mês
Segundo a Secretaria, a falta de professores ocorre porque os funcionários contratados pedem demissão e o processo de substituição demora de dez a 20 dias. No dia 14 de março, 260 professores que fizeram um concurso em 2013 vão tomar no Estado. Destes, 21 em escolas da Capital. A partir de abril, cerca de 500 devem assumir os cargos mensalmente em todo o Estado.