Angústia de um futuro incerto
Famílias afetadas por construção da nova ponte do Guaíba sofrem com falta de informações
Passado um mês do anúncio da obra, ninguém contatou as 850 famílias sobre o processo de realocação
Vivendo na área onde deve ser construída a segunda ponte sobre o Guaíba, moradores da Ilha Grande dos Marinheiros e das vilas Tio Zeca e Areia passam por momentos de incerteza. Por causa das obras, 850 famílias terão que ser desalojadas nas duas margens. O início da construção foi anunciado pela presidente Dilma Rousseff para junho mas, até agora, as pessoas não receberam nenhuma informação sobre o projeto, cuja meta do governo federal é ser finalizado daqui a três anos.
Ninguém apareceu por lá
Na assinatura do contrato, no dia 30 de março, foi acordado que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e o Consórcio Ponte Guaíba iriam identificar terrenos para a realocação das famílias. Simultaneamente, seria realizado o cadastro dos moradores. O processo deveria começar imediatamente. Porém, praticamente um mês depois, nenhuma empresa apareceu no local.
O motorista Jorge Moreira, 62 anos, mora às margens do Guaíba há cerca de 25 anos com a mulher e dois filhos. Ele teme pelo futuro da família.
- Ninguém veio falar com a gente. Estamos sem saber o que vai acontecer - diz Jorge.
"A sensação é horrível"
A dona de casa Eva Faleiro, 71 anos, é sogra de Jorge e mora ao lado da casa do genro com o marido e um sobrinho. Ela mostra com tristeza as árvores que plantou em volta da casa. Dona Eva também está angustiada com a falta de informações.
- A sensação é horrível, não sabemos para onde a gente vai. É brabo eu passar por isso nessa idade, já sou idosa - lamentou.
O comerciante Vilmar Pinheiro, 42 anos, mora no local há quase 30 anos, onde é dono de um bar. Vilmar contou que ninguém apareceu para falar sobre a desocupação com os moradores da Ilha Grande dos Marinheiros. A incerteza já afetou a sua saúde.
- Ando tão nervoso, que fiquei até doente. Como é que eu vou ficar? Vou perder minha casa e meu trabalho? Vou viver de quê? - diz, indignado.
Projeto não está pronto
A superintendência regional do Dnit no Rio Grande do Sul informa que as famílias ainda não foram notificadas porque o estudo de desapropriação não está pronto. O departamento afirmou que tem feito reuniões com a prefeitura de Porto Alegre, governo do estado e a Empresa Queiroz Galvão para levantar os dados das famílias e definir o projeto final. Nos dias 8 e 15 deste mês, foram realizados encontros com as lideranças comunitárias do local, onde foram apresentadas as diretrizes do programa. Assim que o projeto estiver pronto, as famílias serão avisadas.
Falta a licença ambiental
A construção da segunda ponte atinge a área de proteção ambiental Delta do Jacuí e, por isso, precisa de um licenciamento ambiental. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) aprovou a viabilidade da obra em 14 novembro de 2011 à Concepa. Em 27 de setembro de 2013, o Dnit solicitou a licença de instalação, mas não apresentou o projeto da obra e os programas ambientais (19 no total) necessários para a tramitação do processo de licenciamento. As equipes técnicas aguardam os documentos.
Como será a obra
A nova ponte do Guaíba deve dar uma nova fluidez à chegada e saída de Porto Alegre via Sul do Estado, atualmente tão complicada. O problema piorou nos últimos anos por falhas no sistema operacional da ponte antiga (Ponte Getúlio Vargas) e pelos constantes içamentos do vão móvel, que geraram vários congestionamentos. A nova ponte, que tem o orçamento de R$ 649,6 milhões, deve ser usada por 50 mil veículos por dia.
Com duas faixas em cada sentido, serão 1,9km de extensão de um total de 7,3km, considerando acessos e elevadas.