As muletas são velhas conhecidas de dona Adeny Tavares Vara, 83 anos, do Bairro Cristal. Para manuseá-las, não pede ajuda e, algumas vezes, dispensa uma delas. Recentemente, ela caiu e fraturou o fêmur da perna direita, o que a obrigou a usar uma bota ortopédica e a andar na companhia do acessório. Mas a prática com as peças de alumínio não vem deste episódio recente. A idosa já caiu, pelo menos, outras três vezes nos últimos anos. Todas lhe renderam fraturas ou luxações. Todas foram dentro de casa.

Um desequilíbrio, e o dano é enorme
Dona Adeny faz parte de alarmantes estatísticas. O Rio Grande do Sul tem 1,4 milhão de pessoas acima de 60 anos. Anualmente, o Estado registra cerca de 3 mil internações de idosos por fratura de fêmur, resultante de quedas, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) referentes a 2012. A SES aponta, ainda, que 70% das quedas nesta faixa etária ocorrem dentro de casa.

Um simples desequilíbrio, e a qualidade de vida na terceira idade pode ser seriamente comprometida. Em casos mais graves, pode até levar à morte. Em Porto Alegre, no ano de2012, dos 192 óbitos de idosos por causas externas, 101 foram relacionados a quedas, conforme a Secretaria Municipal de Saúde.

Limitações da idade contribuem
A gravidade do tema é tamanha que, neste mês, celebra-se o Dia Mundial de Prevenção de Quedas em Idosos. Para a geriatra da Ses, Maria Cristina Berleze, informação e orientação são fundamentais para a prevenção.

- Questionar se já caiu, como foi, as consequências, além de orientá-lo sobre como reduzir o risco domiciliar tem a maior evidência científica de sucesso na prevenção. A cada cinco idosos orientados, uma queda é prevenida - garante ela.

Segundo o médico Rodolfo Schneider, chefe do serviço de geriatria do Hospital São Lucas da Puc, a grande incidência dequedas em idosos está associada a alterações típicas do envelhecimento.

- Problemas de visão, dificuldade de equilíbrio, perda da força muscular, diminuição dos reflexos... - ilustra.

- A labirintite, que afeta o equilíbrio, o Parkinson, que altera os movimentos, o Alzheimer, que diminui o senso de localização, e a osteoporose, que enfraquece os ossos, também são causas recorrentes - completa o médico.

São muitas armadilhas
Se as limitações do envelhecimento são inevitáveis, o perigo dentro de casa pode ser combatido.

- Tapetes, fios soltos, pouca luminosidade, escadas... São armadilhas perigosas - diz Rodolfo Schneider.

Foi justamente numa dessas armadilhas que dona Adeny caiu recentemente. A cama box, no meio do quarto, tem os pés de plástico. Ao tentar sentar, o móvel deslizou, levando a idosa ao chão.

- Agora, a minha filha mandou fazer uma cabeceira, e a cama vai ser fixada nela. Por enquanto, encostamos na parede - conta, lembrando outros acidentes.

- A primeira vez que quebrei esta perna foi há mais de 20 anos. Já caí muitas vezes, e quebro sempre a mesma. Quando não fraturei, tive luxação - diz a idosa, que sofre de osteoporose e tem uma prótese de fêmur.

No apartamento em que mora com a filha, na Zona Sul, são visíveis outros riscos à mobilidade da senhora. Entre os quartos e a cozinha, uma mesa de vidro e um tapete a colocam em perigo, diariamente.

Fortalecer o corpo ajuda a prevenir
Fortalecer a musculatura e os ossos também pode ser uma maneira de prevenir acidentes com quedas. Isto pode ser feito com prática de exercícios e atenção à alimentação.

- Produtos lácteos e derivados, como iogurtes e queijos, aumentam os níveis de cálcio, que fortalece os ossos. Vitamina D também é importante. Além de tomar sol, ingerir alimentos como peixes, ovos e vegetais escuros ajudam muito - diz o médico Rodolfo.

Alertando contra os excessos, o médico indica, ainda, atividades que podem ser realizadas diariamente.

- Dar uma volta no corredor, na casa ou na rua fortalece a musculatura das pernas. Se conseguir ir na academia e fazer musculação, melhor ainda - diz o geriatra.

Quedas no Estado
- O Rio Grande do Sul tem 1,4 milhão de idosos (acima de 60 anos).

- São 3 mil internações por fratura de fêmur ao ano, resultantes de quedas.

- 70% das quedas acontecem em casa.
 
Como cuidar
- Evite o uso de tapetes ou mantenha-os fixos.

- O caminho entre o quarto e o banheiro deve ser iluminado e livre de objetos.

- No chuveiro, use tapete de borracha antiderrapante e barra de apoio. Se necessário, assento fixo ou cadeira de plástico firme.

- Barras horizontais junto à bacia sanitária, na lateral e ao fundo, ajudam no apoio.

- Escadas devem ter corrimão em ambos os lados e degraus com tiras antiderrapantes.

- Evite camas baixas ou altas demais e procure mantê-las fixas a uma cabeceira.

Primeiros socorros
- Verifique se a vítima está consciente. Depois, confira possíveis machucados, fazendo-a identificar focos de dor.

- Em caso de sangramento, tente estancar.

- Em caso de fratura, não mexa no local nem tente imobilizá-lo e aguarde o socorro.

- Em caso de torção com inchaço, faça compressa no local com bolsa de gel gelada. Caso use gelo, nunca aplique direto na pele: use um pano para evitar queimaduras.

- Não dê nada para o acidentado beber ou comer até que o médico o avalie.

- Em qualquer tipo de acidente que envolva queda, com ou sem fratura, nunca mova o paciente antes que o socorro especializado chegue. O risco de quebrar uma vértebra, provocar ou piorar uma fratura é muito grande.