Quando esfregava com esmero o chão dos banheiros do Asilo Padre Cacique, em Porto Alegre, Elisiane Silva de Albuquerque não imaginava que 11 anos depois estaria à frente do terceiro cargo mais importante dentro da hierarquia da instituição centenária. Hoje, aos 31 anos, ela é a gerente-geral do asilo e comanda diretamente 41 dos 80 funcionários, auxiliando ainda no controle dos cem voluntários e dos 150 idosos.

Mãe aos 16 e aos 18 anos, a moradora da Chácara do Banco, no Bairro Restinga, concluiu o ensino médio entre as duas gestações, mas teve dificuldades para conseguir o primeiro emprego. Em 2003, quando surgiu a oportunidade de atuar como auxiliar de limpeza no asilo, Elisiane abraçou a função com determinação, mesmo sendo via cooperativa de trabalhadores e sem carteira assinada.

Um salto inesperado

Mas o destino de Elisiane já tinha páginas escritas que nem ela imaginava. Três meses depois, foi chamada às pressas para substituir uma colega como auxiliar de cozinha. A tarefa duraria um mês, mas ela não retornou à função anterior:
- Peguei a chance como se fosse a última. Cortava legumes, lavava louça e fazia o que fosse necessário.

Apaixonada por cozinha, dedicava horas a aprender com as mais experientes os segredos da arte de cozinhar. Foi trabalhando com afinco, e distribuindo alegria pelos corredores do asilo, que Elisiane conquistou colegas, internos e um novo posto. Três anos depois, já cozinhando no refeitório do Padre Cacique, foi finalmente contratada pela instituição:

- A nutricionista gostava do meu trabalho e me chamou para ser cozinheira. Um salto que eu não esperava.

"Fazer bem feito"

Mãe, esposa e cozinheira, Elisiane ainda encontrou espaço para um curso gratuito de informática no bairro onde morava. Um ano depois, enfrentou nova seleção e conquistou uma vaga como auxiliar de escritório no asilo. Foram outros três anos até tornar-se chefe da Secretaria. Comunicativa e sempre disposta a aprender, chegou a gerente e ganhou sala própria em 2011.

- Teve quem questionasse a minha capacidade de gerenciar por não ter feito uma faculdade. Mas sempre aprendi muito por onde passei, e isso me ajudou na hora de ser selecionada para a função - acredita.

Com condições financeiras melhores e os filhos já crescidos, Elisiane pode voltar aos estudos, desejo guardado por mais de uma década. Ela está no quinto semestre da faculdade de Administração e já pensa em fazer pós-graduação.

- Acho que as oportunidades surgiram porque todo o compromisso que eu pego tento fazer bem feito, sem passar por cima de ninguém - justifica.

Apoio da família

A rotina árdua de Elisiane começa às 6h30min. Quando chega ao trabalho, por volta das 7h20min, é sempre recebida por duas idosas que a esperam na porta e a conduzem até o refeitório.

- Elas exigem que eu tome café com os vozinhos, se preocupam com a minha alimentação - revela a gerente.

Na sala da gerência, controla 64 câmeras de segurança. Mas o lugar preferido quando precisa respirar é o jardim da instituição. Elisiane só volta para casa por volta da meia-noite, depois de frequentar as aulas noturnas na universidade.

- Sem o apoio do meu marido e dos meus filhos, eu não seria ninguém. Na escola, meu filho teve como tema de casa eleger e contar a história do ídolo dele. Para minha emoção, o Guilherme me escolheu. Isso me dá forças para seguir lutando.

Boa moça

Elisiane não consegue dar dez passos pelos corredores do asilo sem receber um abraço ou um aperto de mão. É o xodó dos velhinhos da casa. Os namorados internos Paulo Antônio Meireles, 71 anos, e Shirlei Gomes Pereira, 76 anos, são só elogios ao trabalho da gerente.

- É uma boa moça e foi com humildade que ela venceu. Merece muito estar onde está - afirma Paulo, com a aprovação da namorada e mais um sorriso de Elisiane.