Gurizada musical
Estudantes de Viamão fundam banda com instrumentos arrecadados no refeitório da escola
Mesmo sem recursos financeiros, diretora de uma escola municipal localizada em Itapuã, na zona rural de Viamão, fundou a banda da instituição com instrumentos feitos de material reciclável. A estreia da turma será em setembro, no desfile oficial do bairro
Da batida forte de um cabo de vassoura num latão de 18 litros de óleo ecoa o som do surdo, ditando o ritmo. A caixeta surge numa lata de 2kg de milho verde com baquetas feitas de palitos de algodão-doce.
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Tritons e chocalhos produzidos a partir de latinhas de 200g de seletas de legumes unem-se ao som improvisado da banda da Escola Municipal de Ensino Fundamental Podalírio Oliveira Fraga, em Itapuã, na zona rural de Viamão.
Foi de um projeto de educação ambiental que surgiu o grupo, há três semanas. Na escola rural desde o início deste ano, a professora e diretora Maria Teresinha de Oliveira Medeiros, 46 anos, propôs transformar em algo aproveitável os resíduos recicláveis. Quando soube que os 33 estudantes da instituição gostavam de música, mas não tinham instrumentos para aprender, Maria Teresinha os contagiou com criatividade.
Sem recursos financeiros para fundar a primeira banda marcial da escolinha rural em 52 anos de existência, ela arrecadou os "instrumentos" no refeitório da própria escola e propôs a fundação da banda.
- Eles (alunos) abraçaram a ideia e, no outro dia, começaram a trazer materiais de casa, como as latinhas - vibra a professora.
Ensaios duas vezes por semana
Sem experiência musical, porém, Maria Teresinha precisava de alguém para ensinar as batidas aos alunos, com idades entre sete e 14 anos. Entusiasmado pela faceirice da mãe, o filho Bruno de Oliveira Medeiros, 18 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio e participante da banda da escola onde estuda, pediu para ser o voluntário da turminha.
Numa oficina, professores, funcionários e alunos construíram os primeiros instrumentos para saber os sons mais apropriados. Duas vezes por semana, a turminha se reúne sobre uma ameixeira no pátio da escola para os ensaios.
- As crianças aprendem rápido e pedem novas batidas. Querem que a escola faça bonito no desfile - comenta Bruno.
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Aprendizado para a vida
O único problema encontrado pela banda de lata é que a frequência dos ensaios modifica o som dos instrumentos com o passar dos dias. Por isso, a necessidade de continuar arrecadando novas latas para a substituição até o desfile, programado para 3 de setembro. E toda a doação é bem-vinda. Inclusive, a banda já pensa em ampliar a quantidade de instrumentos recicláveis, se conseguirem a doação de bombonas de plástico de 20 litros e de outros tipos de latas. Nem pensam em instrumentos "de verdade".
- O mais importante é que estudantes e professores estão aprendendo juntos. O trabalho deixou de ser individual para tornar-se de grupo. Eles levarão este aprendizado para a vida deles - resume Maria Teresinha.
Contagiados pelas batidas
É Samuel Graiss Silveira, 14 anos, o responsável por conduzir o ritmo do grupo carregando o latão que vira surdo. A alça de uma velha bolsa prende o instrumento ao corpo do franzino guri. Desde que ingressou na banda, Samuel também procura ensaiar em casa e está sempre catando latas na cozinha da mãe para usá-las na escola.
- A mãe só pede para ensaiar no quarto, com a porta fechada, para não fazer barulho - comenta, rindo.
Na primeira batida de Samuel, os pés da estudante Maiara Alves, nove anos, começam a marchar instintivamente. À cintura, um cinto prende a caixeta improvisada. Atenta, a menina observa os colegas e tenta melhorar o ritmo. Na escola onde estudava antes, Maiara tocava violão e pandeiro.
- Com as latinhas, fica mais fácil de aprender - garante.
Para ajudar:
* A banda de lata da escola aceita doações de latinhas. Contatos pelo telefone: (51) 9666-6004.