Porto Alegre
Calçadão da Rua da Praia tem muitos buracos
Pedestres reclamam da quantidade de remendos ao longo da principal via de passagem a pé do Centro
Principal via de passagem apenas de pedestres em Porto Alegre, o calçadão da Rua da Praia, no Centro, aos poucos está deixando o contexto histórico de lado para virar uma colcha de retalhos. No lugar das pedras de basalto que se quebram, a Secretaria Municipal de Obras - responsável pelo trecho - optou por preenchimento com concreto. O resultado é uma imagem distante do calçadão que teve seu primeiro trecho inaugurado em 8 de novembro de 1974.
Na justificativa do secretário da Smov, Rafael Fleck, a atual composição do passeio não estaria suportando o peso dos veículos que abastecem, diariamente, lojas e bancos localizados na via. Segundo ele, o concreto garante maior durabilidade para o piso e reduz os custos de restauração, já que cada lajota custa, em média, R$ 80.
"Não tem idade para ir ao chão"
Mas nem os reparos diários feitos pela Divisão de Conservação de Vias Urbanas da Smov, conforme o secretário, têm sido suficientes para evitar buracos, pedras soltas, remendos corroídos e rachaduras nas pedras que ainda restam nos 600m do calçadão da Rua da Praia. Panfleteira há quatro anos no trecho entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua Marechal Floriano, Sheron Freitas, 32 anos, mostra exatamente onde estão os principais problemas da área. E já perdeu a conta de quantas pessoas viu cair ao tropeçarem em pontas soltas e pedras rachadas.
- De crianças a idosos, não tem idade para ir ao chão. Tem este pedacinho aqui (mostrando em frente ao número 1.448) que é uma armadilha. Quando alguém pisa de um lado da pedra, o outro sobe. Aí, é tropeção certo se eu não consigo avisar a tempo - indica.
"Uma vergonha"
Atento aos buracos, o fiscal de ônibus aposentado Edgar Ferreira, 84 anos, do Bairro Restinga, diminui os passos quando precisa percorrer o calçadão em busca de remédios. Pelo menos, duas vezes ao mês, ele circula pela área atrás das farmácias mais baratas. A bengala o ajuda a descobrir as pedras falsas.
- Só ando devagarzito e tateando com a bengala para não me esborrachar no chão. Para uma pessoa idosa, estas pedras soltas são o mesmo que uma arma - reclama.
A auxiliar de serviços gerais Eronilda Maciel, 76 anos, sabe bem o que é dar com a face no basalto do calçadão. Há 32 anos, percorre a via diariamente. Em mais de uma ocasião, acabou tropeçando e caindo, mesmo usando uma bengala para firmar-se melhor.
- De Rua da Praia, virou Rua dos Remendos. Uma vergonha! - desabafou, enquanto seguia olhando para o chão.
Projeto de revitalização em estudo
De acordo com o arquiteto Glenio Bohrer, coordenador do projeto Viva o Centro, há dois meses a prefeitura de Porto Alegre montou um grupo de estudos para criar um projeto de revitalização de determinadas vias do Centro, incluindo o calçadão da Rua da Praia.
- Aquela região é mais complicada por ter um emaranhado de redes subterrâneas diversas. É preciso, primeiro, estudar aquele trecho. O projeto está quase finalizado - revela.
Mas Glenio destaca que a superfície do calçadão é o que mais preocupa o grupo, já que será necessário uma discussão específica para determinar que tipo de piso será colocado no local. A meta é concluir o estudo em 60 dias.
- Ainda é cedo para falarmos sobre valores da obra e como ela será executada. O certo é que não podemos proibir a passagem dos veículos que abastecem o comércio local. Definiremos a base adequada e a pedra a ser utilizada. O calçadão já perdeu as características do passado, e do jeito que está não poderá continuar - finalizou Glenio.