Sambódromo
Falta de arquibancadas no Porto Seco completa dez anos na mesma situação
Quem tem planos de assistir aos desfiles do Carnaval de Porto Alegre de 2015 no Sambódromo continuará acomodado em arquibancadas provisórias
Dez carnavais depois da inauguração da pista do Sambódromo do Porto Seco, na Zona Norte da Capital, e o monta-e-desmonta das arquibancadas do Complexo Cultural deve persistir pelo menos por mais uma festa de Momo. Na abertura do Carnaval deste ano, o prefeito José Fortunati fez mais uma promessa: dois módulos das arquibancadas ficarão prontos em 2015. Porém, como o processo licitatório da obra sequer teve início, a obra só deverá sair do papel depois do próximo Carnaval. Desde 2004, a falta das arquibancadas fixas gerou uma despesa em torno de R$ 20 milhões.
- Não teria como colocar um canteiro de obras na pista neste momento. Se quisessem começar agora, ficaríamos preocupados. A obra teria que ter iniciado entre abril e junho - observa o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa), Juarez Gutierres.
Promessas em vão
Quando a pista de desfiles foi inaugurada, em 2004, a promessa era de que, em 2005, as arquibancadas fixas seriam entregues. Uma década passou, e a sequência de promessas não foi cumprida.
O presidente da escola Bambas da Orgia, Cleomar Rosa, acredita que o Carnaval poderia ser mais valorizado pelo público se as arquibancadas estivessem prontas.
- A comunidade cobra, é uma reivindicação de todos os componentes. Mas ainda temos a esperança de que o poder público faça as arquibancadas. O Carnaval merece - comenta Cleomar.
Já a presidente da Imperatriz Dona Leopoldina, Juciane Afrausino, acha necessário que prefeitura, Estado, União e empresários se juntem para tocar o projeto.
- Mas não adianta ter arquibancada e não ter segurança - pondera.
Correria para entrega da pista
A prefeitura lançou a licitação para o Sambódromo em 2003. A pista de desfiles foi entregue às vésperas do Carnaval de 2004. Para garantir a festa em novo endereço (da Avenida Augusto de Carvalho para o Porto Seco), operários trabalharam 12 horas por dia, de segunda a segunda. Teve carnavalesco rezando para São Pedro colaborar com o clima. A previsão era de que a estrutura do Complexo ficasse pronta em 2005.
Há dez anos, primeiros barracões foram entregues
No final do ano de 2004, cinco dos 15 barracões do Complexo foram entregues. A Imperatriz Dona Leopoldina foi uma das cinco agremiações a instalar-se no local. Os demais galpões foram sendo ocupados até 2008.
Na época, Juciane era porta-estandarte da escola. Antes do barracão no Porto Seco, as alegorias eram montadas num galpão improvisado no Bairro Humaitá, ou no Cais.
- O nosso carnavalesco veio do Rio e elogiou muito os barracões. A primeira casa da gente é a quadra e a segunda, o barracão - observa.
A Bambas da Orgia foi outra escola a estabelecer-se no barracão há dez anos. Cleomar observa o ganho para as escolas.
- Quando as alegorias eram feitas longe da pista, havia muita quebra de carros. Terminava o Carnaval e os carros ficavam na rua, eram avariados. Hoje, facilita muito - avalia.
Em relação aos barracões, o coordenador de Manifestações Populares da Capital, Joaquim Lucena, afirma que lâmpadas, vidros e portas são itens que a prefeitura pretende revisar e substituir antes de entregar definitivamente a manutenção dos barracões às escolas. Hoje, a despesa com energia elétrica cabe à administração municipal e a água, às escolas de samba.
Prefeito não quis falar
Desde terça-feira, dia 16, a reportagem do Diário Gaúcho tentou ouvir o prefeito sobre o assunto, mas ele não quis se manifestar. Inicialmente, a justificativa da assessoria do gabinete do prefeito foi de que o assunto estava sendo tratado pelo Gabinete de Desenvolvimento e Assuntos Especiais (Gades). Mas como as promessas mais recentes foram feitas por Fortunati, mais uma vez a reportagem insistiu em entrevistar o prefeito. O gabinete informou, no entanto, que não havia disponibilidade de agenda para atender o Diário Gaúcho.
Por fim, a assessoria confirmou que o secretário Edemar Tutikian trataria do assunto.
Copa contribuiu para atraso
O secretário do Gabinete de Desenvolvimento e Assuntos Especiais (Gades), Edemar Tutikian, afirma que o projeto da primeira etapa das arquibancadas (o lado direito de quem está na cabeceira da pista) está pronto, aguardando o parecer dos Bombeiros em relação ao Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI) para seguir para abertura do processo licitatório. O custo da primeira etapa deve ser de R$ 25 milhões, com recursos da prefeitura.
Quanto ao atraso de uma década, o secretário explica:
- Esses projetos são complexos, passam por muitos órgãos, aprovações, revisão de orçamento. É uma tramitação que não é tão rápida como a gente gostaria. A prioridade desde o ano passado era a Copa. É uma obra que pode começar tão logo acabe o Carnaval. A grande vitória é ter chegado a esse momento.
Já a segunda etapa do projeto, que compreende arquibancadas, camarotes e frisas, está sendo finalizada. Ainda não está definido o valor, mas no total as duas etapas devem custar R$ 70 milhões. As arquibancadas vão acomodar 25 mil pessoas sentadas.
Da boca para fora
22/2/2012: o prefeito determinou a retomada do projeto para a construção do Complexo Cultural do Porto Seco e anunciou o início das obras para aquele ano. Um módulo estaria pronto antes dos desfiles de 2013. Em entrevista para o Diário Gaúcho, durante a campanha eleitoral, Fortunati chegou a afirmar que já havia recursos para licitar a primeira etapa da obra. Mas o projeto não saiu do papel.
5/2/2013: poucos dias antes do Carnaval, o prefeito apresentou novo projeto do Sambódromo e anunciou que os dois primeiros módulos da arquibancada, de um total de nove, deveriam estar prontos em 2014. As obras seriam iniciadas no segundo semestre de 2013.
28/6/2013: com os secretários do Desenvolvimento e Assuntos Especiais, Edemar Tutikian e da Cultura, Roque Jacoby, o prefeito apresentou mais um projeto.
28/2/2014: no desfile, o prefeito disse que o município estava trabalhando no edital de licitação para construir as arquibancadas permanentes. Segundo o anúncio, em 2015, ficariam prontos dois módulos.
Entenda o caso
Existente desde 2002, quando foi definido o novo local de desfiles carnavalescos, o projeto de construção do Sambódromo do Porto Seco foi remodelado pelo arquiteto Raul Macadar, a partir de sugestões das escolas e de uma análise da Sapucaí.
O edital de licitação para o Complexo Cultural do Porto Seco foi lançado em 2003.
A inauguração parcial da obra ocorreu no ano seguinte, com promessa de conclusão em 2005.
Desde 2004, quando a primeira apresentação foi realizada no local, o monta-e-desmonta das arquibancadas já custou quase R$ 20 milhões aos cofres públicos.