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ELEIÇÕES 2014

Dona Geny dá aula de cidadania ao bisneto

Com um cateter no coração e uma disposição invejável, líder comunitária de 81 anos apresenta ao bisneto os motivos para escolher seus representantes e acreditar no futuro.

04/10/2014 - 09h01min

Atualizada em: 04/10/2014 - 09h01min


Jeniffer Gularte
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Luiz Armando Vaz / Agencia RBS

O coração da dona de casa Geny Pinto Machado, 81 anos, arriscou fraquejar, mas a disposição de cidadã jamais arrefeceu. Ela não vê a hora de votar neste domingo, mesmo com um cateter no peito há um mês, colocado quando o coração batia míseras 27 vezes por minuto _ enquanto o normal é entre 50 e 80 nesta idade.
- Não sinto nada e enquanto for viva vou votar. Quem não vota não pode reclamar - sentencia a líder comunitária do Bairro Chapéu do Sol, no Extremo-Sul de Porto Alegre, que há 11 anos não é mais obrigada a comparecer em frente à urna.
Dona Geny jamais vai abrir mão de participar das eleições, pois ainda tem bem presente na memória a época em que não tinha esse direito. Fez o título aos 17 anos, na década de 1950, e votou pela primeira vez em um colégio do Bairro Belém Novo, na época em que os candidatos faziam churrascada para os eleitores no dia da eleição e ainda davam carona para eles até o local de votação.
- Faziam de tudo para conquistar nosso voto - lembra.
O direito, no entanto, lhe foi tirado durante o período da Ditadura Militar (1964-1985) e recuperado apenas na segunda metade da década de 1980.
- Naquela época existia muito ódio, muita briga entre os partidos opostos. Era um clima de medo, não tinha escolha, nem campanha - lembra.

"Tem que ir à luta"

O clima de repressão a tornou uma mulher politizada. É do tipo que acompanha os debates na tevê e não perde uma propaganda. Ela não só já tem todos seus candidatos como incentiva o bisneto, Alison Berchental Peres, 19 anos, a não desperdiçar a oportunidade de escolher seus representantes. Foi ela quem o levou para fazer o título eleitoral, há dois anos, para que ele pudesse participar das eleições municipais. O estudante e empacotador de supermercado não estava muito a fim de votar, mas o pedido da bisa falou mais alto.
O legado que dona Geny está deixando já faz a diferença na consciência do jovem. Ao contrário de muitos dos seus amigos - que estão desencantados com a política e assumem que irão anular o voto - ele chama para si a responsabilidade de um futuro melhor.
- Se votar em branco, vai poder cobrar o quê? Se na hora de escolher não escolher certo, só daqui a quatro anos. A gente tem que ir à luta para as coisas melhorarem - afirma Alison.


O exemplo que fica

O jovem, inclusive, já tem seus próprios critérios de escolha: personalidade e o histórico do político. Os seis candidatos estão definidos e a cola está pronta para o domingo. Mesmo assim, avalia que a campanha eleitoral foi pesada:
- Teve muito ataque, muito xingamento e pouca exposição de propostas.
Porém, indiferente das frutas "podres" das política, o que levará na lembrança é o exemplo da bisa:
- Ela me ensinou a ser guerreiro, correr atrás do que quer e não ficar acomodado, esperando as coisas acontecerem. Eu também quero deixar isso para os meus netos.


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