Há um ano, o uso da internet não fazia parte da vida do coletor de lixo Luis Henrique Alves Luis, 38 anos. Sem computador em casa, o acesso à rede virou um hábito a partir da tela do smartphone.

E, desde então, o morador do Bairro Bom Jesus, na Zona Leste da Capital, mantém contato com os amigos por meio de redes sociais como Facebook e comunica-se com a esposa a partir de ferramentas como o WhatsApp.

As ligações, que eram feitas para celular, ficaram raras.

- A internet facilita a vida da gente, se ganha tempo. Mas, de vez em quando, a gente perde a atenção também - observa Luis Henrique, que costuma deixar o celular na mochila enquanto atua na limpeza da cidade.

Por onde anda, costuma verificar se existe sinal aberto de Wi-Fi (para economizar o pacote de dados, que se esgota rapidamente) e está sempre deslizando as pontas dos dedos na tela do telefone. E já planeja melhorar a navegação:

- Quanto mais giga tiver o telefone, melhor! - conta o coletor, que tem um plano pré-pago.

São mais de 48 milhões

Luis Henrique é exemplo de uma tendência apontada na pesquisa Google/Data Popular: a classe C, aquela cuja renda familiar média é de R$ 2,9 mil, já é maioria na rede, representando 54% do total de internautas brasileiros. É um universo de
48,3 milhões de internautas, superando o total de usuários em países como o México.

Para comparar: na última década, a população brasileira cresceu aproximadamente 10%. No período, o número de internautas das classes A/B aumentou 143%, enquanto os da classe C, 204%.A pesquisa foi realizada em julho de 2014, com 1,5 mil internautas, em 50 municípios do Brasil.

Família que acessa unida...

Na rotina da dona de casa Dileina Lopes da Silva, 46 anos, do Bairro Navegantes, na Zona Norte da Capital, até o Natal do ano passado, o celular era usado apenas para fazer ligações.

Porém, desde que ganhou um smartphone do esposo, o acesso à internet passou a fazer parte do dia a dia dela. A filha Kennya Prates, 14 anos, que acessa várias redes sociais pelo smartphone, tem ensinado a mãe a lidar melhor com a tecnologia.

- Eu uso internet no celular desde 2012. Antes, usava o computador, agora é só o telefone - relata a adolescente.

Dileina, por sua vez, conta que usa o Facebook de vez em quando para se comunicar com amigos e familiares. Já o filho Teilor, 12 anos, vai além.

- Ele joga, baixa vídeos, usa o Face, está sempre mexendo no celular. É bom, mas atrapalha um pouco - avalia a dona de casa, que acha que o comportamento da família mudou depois do advento da internet no celular.

OS NÚMEROS

- 54% do total de internautas brasileiros é da classe C (renda familiar média de
R$ 2,9 mil).

- O número equivale a 48,3 milhões de internautas, mais do que o número total de usuários conectados no México (44,1 milhões), Canadá (29,7 milhões) e Argentina (23,5 milhões).

- 97% das pessoas que possuem smartphone acessam a internet por meio dele.

- 47% dos internautas da classe C já têm smartphone. Em geral, para acessar redes sociais, fazer buscas e assistir a vídeos.

- 31% dos internautas da classe C são usuários recentes de internet - acessam, no máximo, há três anos. Metade deste percentual acessa a rede há, no máximo, cinco anos.

- Em relação à idade, 57% dos usuários da classe C têm até 25 anos, e 42% têm 35 anos ou mais.

Tendência é de crescimento

De acordo com o coordenador do curso de Comunicação Digital da Unisinos, Daniel Bittencourt, a expectativa é de que a dominação da classe C na internet se consolide.

Entre os motivos para o aumento da participação da classe C na rede estão o crescimento demográfico e o aumento do poder aquisitivo dessa população, além de acordos entre governo e fabricantes no sentido da redução no preço dos aparelhos.

Segundo Daniel, o smartphone se torna um ícone de diferenciação social e, a partir dele, começa um processo de inclusão digital do usuário.