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Porto Alegre

Remoção de famílias para construção da nova ponte do Guaíba começa no fim do ano

O clima de preocupação é grande entre os moradores que terão suas casas removidas

10/04/2015 - 07h07min

Atualizada em: 10/04/2015 - 07h07min


Tadeu Vilani / Agencia RBS
Como a usina de reciclagem será demolida, Sandra teme perder a sua fonte de renda

De um lado do Guaíba, as fundações dos pilares de concreto começam a desenhar o cenário da obra da nova ponte, na Capital. Na outra margem, o clima de preocupação ronda a rotina dos moradores que terão suas casas removidas devido à construção.

Ao todo, serão 998 famílias na Ilha Grande dos Marinheiros e nas vilas Tio Zeca e Areia que terão de sair de suas residências. A previsão do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) é de que as primeiras famílias sejam removidas no final do ano.

Presidente da Associação das Mães Unidos da Ilha Grande dos Marinheiros, Nazaret da Silveira Nunes, 70 anos, afirma que a comunidade teme o que está por vir. As últimas reuniões com o Dnit, responsável por executar a obra de custo total de R$ 649,62 milhões, ocorreram no ano passado.

De lá para cá, novas dúvidas não param de surgir. O temor é que as alças de acesso à ponte acabem por atingir mais moradores do que o previsto.

- Neste ano, não fomos informados de nada. Não sabemos como vai ser a remoção e se mais famílias serão atingidas. Não queremos ir para casas de passagem nem para casas de aluguel - diz Nazaret.

Em busca de respostas, a comissão integrada por Nazaret está tentando agendar uma reunião com o Dnit para conhecer o projeto da nova ponte e ter a real dimensão de quem serão os afetados.

- A gente quer alguma explicação - afirma a líder comunitária.

Casas foram cadastradas

Nazaret está com a sua casa, onde formou a sua família e na qual vive há 30 anos, incluída no cadastro de imóveis feito pelo Dnit. No amplo terreno às margens do Guaíba, estão quatro casas da sua família, onde vivem a líder comunitária, além de dois netos e dois filhos.  

De acordo com o departamento, todas as casas identificadas (que tiveram um número do Dnit pintado na parede) serão reassentadas. Os imóveis cadastrados foram fotografados e farão parte de um "cadastro congelado" que não aumentará até a data da remoção.

Duas áreas já foram reservadas

O Dnit esclarece que o reassentamento das famílias será feito de acordo com o andamento da obra. Atualmente, os trabalhos estão em fase de fundação e ocorrem no Bairro Humaitá. Até a obra chegar à outra margem, as famílias já terão de estar realocadas.

A previsão do Dnit é de que as primeiras famílias sejam reassentadas entre o final deste ano e o começo do próximo. Ainda não há definição de quais comunidades serão mexidas antes. A ordem dos realojamentos só será decidida mais próximo à mudança.
Os terrenos que receberão as famílias da Ilha Grande dos Marinheiros ficam dentro da própria ilha, em uma área atrás do Motel da Ilha.

Os moradores das Vilas Tio Zeca e Areia serão encaminhados para o Bairro Humaitá, na Avenida Ernesto Neugebauer. O Dnit está fazendo a infraestrutura destas áreas. A construção das moradias ocorrerá através do programa Minha Casa, Minha Vida. A previsão é de que as casas tenham em torno de 40 metros quadrados.

Mais de mil imóveis

Ao todo, são 998 casas e 33 comércios e instituições, totalizando 1.031 imóveis que deverão ser realocados. Todo o processo é acompanhado pelo Dnit, pela Secretaria de Habitação de Porto Alegre e pela Secretaria Estadual de Planejamento.

Segundo a assessoria do Dnit, não foram feitas novas reuniões porque do ano passado para cá não houve novidades a serem informadas aos moradores.

Identidade comprometida

Além das casas, a obra vai botar abaixo locais tradicionais da Ilha Grande dos Marinheiros. Os dois santuários de Nossa Senhora Aparecida deverão ser demolidos. O único campinho de futebol também deixará de existir.

A usina de triagem da Associação dos Catadores Ilha Grande dos Marinheiros é outro imóvel que está na lista de remoção. No local, trabalham 18 pessoas.

- Não temos certeza de nada, nosso medo é ficar sem emprego - relata a coordenadora-geral da usina, Sandra Teixeira, 40 anos.

Segundo o Dnit, a usina de reciclagem será reconstruída, para não deixar a comunidade sem renda. Não houve um posicionamento sobre os demais imóveis.


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