Opinião
Carlos Etchichury: pai de filho homem
Colunista do Diário Gaúcho fala sobre a cultura do machismo
O episódio aconteceu em um shopping da Zona Sul de Porto Alegre, há dois anos. Eu, minha mulher e o nosso filho, então com três anos, estávamos na fila de um restaurante para pagar pela refeição quando uma funcionária, olhando para o Santiago, questionou:
- Qual copo você quer?
Era uma promoção. Como brinde pelo almoço, crianças ganhavam um copo plástico, de bom tamanho, da Turma do Chico Bento. Nas mãos da atendente havia copos de diferentes cores. Santiago mirou, e apontou para um cor-de-rosa. Tentei demovê-lo:
- Filho, quem sabe pega o verde, é mais bonito.
- Não, papai. Eu quero aquele! - insistiu o Santiago, definitivo, apontando para o cor-de-rosa.
A mulher nos olhou, meio que sem saber o que fazer, aguardando uma orientação. Sorrimos, e, obviamente, pegamos o belo copo cor-de-rosa do Chico Bento escolhido pelo nosso filho. Sentado à mesa, entre uma garfada e outra, fiquei envergonhado com a minha surpresa inicial.
Qual o problema de um guri usar algo cor-de-rosa, e de uma guria, por exemplo, deixar as bonecas de lado para brincar de super-herói? Que mal há em ele curtir os desenhos da Monster High, e ela ser fissurada nas aventuras do Relâmpago McQueen e do seu amigo Mate? Estas construções sociais tolas, que nós mesmos reforçamos, só servem para alimentar a cultura do machismo - ambiente que tolera diferentes formas de violência praticadas contra mulher, desde a "encoxada" cretina no ônibus lotado, passando pela cantada ordinária de meninas na porta da escola até, no limite, crimes como abusos, estupros e assassinatos passionais.
Ao combater estereótipos desde a infância, portanto, nós, pais de filho homem, estaremos educando cidadãos que respeitarão as mulheres, que as amarão de todas as formas sem imaginar que elas, as mulheres, sejam suas propriedades.
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* Diário Gaúcho