Opinião
Manoel Soares: barriga de tanquinho
Colunista do Diário Gaúcho fala sobre a importância da mãe em sua formação
Minha mãe tem barriga de tanquinho. Aos 55 anos, ela já pegou mais pesado do que qualquer halterofilista que eu tenha visto. Ao todo, somos seis filhos. Eu sempre fui o mais imprevisível, o que achava que o sonho absurdo de trabalhar na tevê um dia daria certo.
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Ela, por sua vez, chegava quebrada das faxinas e ainda fazia fantasia de índio para que eu pulasse Carnaval na escola. Quando trabalhou no plantio de mudas de laranja, onde era obrigada a ficar agachada cerca de sete horas por dia, chegava em casa e tinha paciência para ouvir minhas histórias mirabolantes sobre o que iria ser quando crescesse.
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Com 28 anos, ela fugiu da violência que sofria nas mãos de meu pai na Bahia e foi para São Paulo. Aos 42 anos, aceitou meu convite para vir ao Rio Grande do Sul, acreditando que aqui conseguiríamos mudar o curso das nossas vidas.
Guerreira
A lembrança que tenho dela na infância é com a barriga grudada no tanquinho, lavando roupa para fora. Fazia isso depois de um dia inteiro de faxina, e esse era nosso momento de conversar.
Eu via aquele tanquinho como o tanque que ela usava na guerra da vida. Fiquei muito feliz quando ela pôde abandonar o tanquinho. Mas ela nunca deixou de ser guerreira, só que hoje, ao invés do tanque, usa a experiência de vida para ajudar pessoas que querem se superar também.
Como coordenadora da Cufa, faz faxina em mentes e limpa vidas. Dona Ivanete, sua barriga de tanquinho me ensinou a ser quem sou. Quando crescer, quero ser homem como a senhora.