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Reciclagem

Ex-carrinheiros celebram oportunidade de uma vida nova na Capital

Programa da prefeitura de Porto Alegre começa a gerar resultados entre aqueles que decidiram abandonar a vida de catador nas ruas da cidade

13/01/2016 - 07h14min

Atualizada em: 13/01/2016 - 07h14min


Carlos Macedo / Agencia RBS

Pelo prédio da UT Nova Chocolatão, na Zona Norte de Porto Alegre, passam mais do que latas, garrafas pet e papelões entre os 32 cooperativados, ex-carrinheiros da área central da cidade. Autoestima elevada e confiança num futuro longe dos carrinhos ganharam espaço entre os recicladores.

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Eles fazem parte de uma geração que decidiu ingressar no programa Todos Somos Porto Alegre, lançado pela prefeitura há quase três anos com a intenção de reduzir gradativamente o número de veículos de trações animal e humana na Capital.

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Formada por jovens filhos de catadores, que conheceram a catação de rua ainda na infância, a direção da UT tornou-se exemplo para as outras 18 unidades espalhadas por Porto Alegre e que abrigam cerca de 600 pessoas - a maior parte são ex-catadores que, assim como eles, se cadastraram no programa.

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Os números da Nova Chocolatão comprovam: em fevereiro do ano passado, o salário de cada cooperativado não passava dos R$ 600. Hoje, chega a R$ 1,2 mil e com cesta básica. As coletas e vendas de isopor e de óleo de cozinha garantem o 13º da turma. Há uma lista de espera de 21 pessoas aguardando uma vaga para atuar na unidade.

- Trabalhei no carrinho dos dez aos 20 anos, ao lado da minha mãe e da minha irmã, e sei como é difícil esta vida na rua. A possibilidade de ser responsável por outras pessoas me fez ter vontade de voltar aos estudos. Quero ser advogada - garante Jéssica da Silva Borges, 24 anos, tesoureira da cooperativa.

Sem preconceito

Assim com Jéssica, que parou de estudar na quinta série do ensino fundamental, o presidente da cooperativa, Flávio Januário, 21 anos, também planeja voltar à sala de aula neste ano. Ele, que cursará o ensino médio, quer continuar no ramo administrativo, função jamais imaginada enquanto puxava um carrinho ao lado pai, pelas ruas de Porto Alegre.


Fotos: Carlos Macedo / Agência RBS

- Cresci sem sonhos. Só comecei a pensar que poderia ser mais do que um catador quando fizemos um curso de empreendedorismo. Hoje, posso apertar a mão de qualquer pessoa sem sentir preconceito. Não sou mais um ninguém - conta, orgulhoso.

- Nunca pensei que, um dia, abraçaria o prefeito! - completa Marcela Borges, 19 anos, secretária da cooperativa, relembrando o dia em que a UT participou de um evento da administração municipal.

Ainda nas ruas

Desde julho do ano passado, somente o Extremo-Sul da cidade está liberado para o trânsito de carroças e carrinhos pelas ruas. No restante de Porto Alegre, quem for pego pelas blitze da EPTC em conjunto com a Brigada Militar perderá o veículo, mas não será multado. Conforme Denise, as blitze acontecem a cada 15 dias e só podem ocorrer com a presença dos policiais e de um veterinário - responsável por avaliar o cavalo.

- Não vamos multar quem estiver com o veículo, mas vamos orientá-lo a se cadastrar no programa. O objetivo é mostrar a ele que é possível deixar a catação por outra função - explica Denise.



Ainda há quem resista a deixar as ruas. É o caso do carroceiro Adroaldo Barros, 30 anos, do Bairro Anchieta. Flagrado pela equipe de reportagem, ontem, na Avenida Sertório, Adroaldo afirmou que só deixará a função se for obrigado. Ele usa a carroça para fazer fretes e outros serviços pela cidade.

Já o catador Paulo da Conceição, 49 anos, flagrado circulando com o carrinho na Avenida Ipiranga, garantiu que sonha em deixar a função.

- Estou recuperando os meus documentos, pois quero sair desta vida. Fui metalúrgico por muitos anos, mas me perdi nas drogas. Estou limpo há anos, e quero uma nova chance de trabalho - afirmou, antes de seguir pela avenida.



Novas possibilidades

Desde que foi implantado, o programa ofereceu 813 bolsas de capacitação nos mais diferentes cursos - entre eles, eletricista, cozinheiro, camareira, manicure e empreendedor - e encaminhou 500 pessoas para o mercado de trabalho.

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Segundo a coordenadora do Todos Somos Porto Alegre, Denise Souza Costa, a fase de resistência a uma nova função ficou para trás. Hoje, cada unidade de triagem tem um especialista assessorando as coordenações e dez equipes fazem o trabalho de busca ativa a quem ainda está na rua.

- Nossa meta até o final de 2016 é tirar das ruas 80% das carroças cadastradas. Para isso, precisamos oferecer novas possibilidades de empregos para estas pessoas - acredita Denise.

Hoje, Porto Alegre recicla cem toneladas diárias de resíduos. Pelos cálculos do diretor-geral do DMLU, André Carus, se os porto-alegrenses separassem corretamente as sobras, este número poderia ser ampliado para 320 toneladas por dia. Consequentemente, seriam ampliados os números de vagas nas unidades de triagem já existentes e de UT’s na cidade.

Os cadastrados

- 382 famílias de carroceiros
- 524 carrinheiros. Destes, apenas 12 já foram indenizados (receberam R$ 200 pelo carrinho, em troca de entregá-lo para a prefeitura). O motivo do baixo número, segundo o Todos Somos Porto Alegre, é que a maioria dos carrinhos é alugada.
- 399 de catadores autônomos
- 382 carroças cadastradas. Destas, 205 já foram indenizadas (receberam R$ 1,5 mil pela carroça com cavalo, em troca de entregá-lo para a prefeitura).

Como aderir ao programa

- Procure o Centro Administrativo Regional (Car) da sua região. Eles estão nas 17 regiões da Capital.
- O Car direciona o interessado às entidades responsáveis pelo encaminhamento para cursos e para o mercado de trabalho.
Os próximos cursos para catadores
- A partir de 25/1 - Costura - 20 vagas
Local: Incubadora da Zona Norte
- A partir de 1/3 - Alfabetização Aplicada com escolha nas áreas de Beleza (manicure e pedicure), Hospitalidade (Camareira) e Conservação e Limpeza (agente de limpeza) - 150 vagas


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