Opinião
Manoel Soares: Berinjela do funk
Colunista fala sobre a mudança de opinião e gosto musical
Quando eu era criança, minha mãe me dizia para comer berinjela. Só que eu comi uma que foi feita na escola - acho que a tia da cozinha não estava em um bom dia - que estava amarga e eu peguei nojo. Anos depois, comi uma berinjela à milanesa feita por minha mãe e me apaixonei. Hoje, quem quiser conquistar meu coração, é só me oferecer berinjela.
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Mudar de opinião faz parte da evolução, mas, infelizmente, estamos cercados de pessoas que fazem parte do clube: "não comi e não gostei". Boa parte dos fazem parte desse clube diz não curtir funk. Mal sabem que as filhas, nos fones de ouvido, dançam na frente do espelho na levada do batidão.
Manoel Soares admite ser um idiota
Moças que falam mais de três idiomas, depois das duas da manhã, em suas festas chiques descem até o chão, quase rasgando a lateral do vestido caríssimo. Elas se libertam da masmorra cultural gritando refrões que, na luz do dia, chamam de bagaceiros, mas como será que sabem as letras?
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Dança do ventre
Por outro lado, funks como Não Foi Cabral, da MC Carol, dizem verdades da história do Brasil que os livros de escola não contam. Ouvir funk não é sinal de inteligência nem de ignorância, mas temos que reconhecer que a maior burrice está em quem generaliza.
Gosto de funk, acho que é a dança do ventre da favela.
Sou contra os pais irresponsáveis que permitem que crianças ouçam e dancem algumas dessas músicas que têm conteúdo erótico. Mas bem de boa, se uma menina de 25 anos quiser dançar Baile de Favela na minha frente enquanto eu como berinjela, eu vou adorar. Se uma professora colocar MC Carol para alunos da terceira série ouvirem, vou adorar também. Não aceito que uma elite babaca venha nos dizer que chique é sentir nojo do que nasce de nosso meio. Isso é crueldade.