"Mão no bolso"
Após acidente de trabalho, catarinense passará seis semanas com mão dentro do abdômen
Procedimento evita infecções na mão. Auxiliar de produção fará nova cirurgia em seis semanas
Depois de receber alta da Fundação Hospitalar Santa Otília, em Orleans (SC), o auxiliar de produção Carlos Alberto Mariotti, 42 anos, está mais aliviado. Ele foi submetido a uma cirurgia para tentar reparar a perda de pele da mão esquerda e a amputação parcial dos dedos indicador e médio. A solução encontrada é curiosa: o catarinense deverá passar seis semanas com a mão dentro do abdômen, em uma espécie de bolso criado para evitar infecções.
O acidente aconteceu na noite de 29 de março enquanto operava uma máquina de fabricar bobinas.
– Na hora em que fui passar o filme, a máquina não abriu. Começou a puxar a pele da mão. Gritei uma vez, duas. Na terceira, puxei toda a mão – disse Carlos ao Diário Gaúcho.
Os gritos de Carlos demoraram a ser ouvidos por causa do barulho das máquinas. Depois que recebeu os primeiros socorros de colegas, foi levado pelos bombeiros ao hospital.
– Por enquanto, só mexo o dedo polegar. Os outros estão dormentes e, se eu mexer, dói – diz o catarinense, explicando como está a mão dentro do abdômen.
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O médico ortopedista e traumatologista Bóris Brandão, que operou Carlos, explica que manter a mão dentro do abdômen possibilita o desenvolvimento de tecido de granulação, apropriado para receber pele nova. Essa região foi escolhida porque, segundo o médico, era a única onde caberia a mão.
– Esse procedimento evita infecção, porque oferece uma cobertura natural com o próprio organismo do paciente. Dá chance de o organismo reagir, de se recuperar. Se ficasse exposto, o tecido morreria –, detalha.
Após as seis semanas com a mão "guardada", Carlos passará por uma nova cirurgia. A ideia é reimplantar pele na mão: parte oriunda do próprio abdômen, parte vinda de enxerto - transposição de pele de uma parte do corpo para outra região.
– O objetivo do tratamento é que sejam devolvidos movimentos. Não todos, mas um bom movimento de pinça, para que ele possa segurar uma ferramenta, um talher, dirigir um automóvel. Vai ser uma mão funcional –, explica Bóris.
Solidariedade
O auxiliar de produção tem um único filho: Guilherme Matos Mariotti, 8 anos. No dia seguinte ao acidente do pai, o menino já estava no hospital pronto pra prestar solidariedade. Quando Carlos contou o que tinha acontecido com seus dedos, o filho se prontificou a ajudar.
– Não tem problema, pai, eu dou os que eu tenho bonzinhos pro senhor.
Mesmo contratado havia apenas 45 dias na empresa, Carlos tem recebido bastantes visitas de colegas e auxílio da empresa
– Sempre fui bastante participativo, procurava ajudar no trabalho. Os colegas estão vindo me ver, a empresa está pagando medicamentos –, conta.
* Diário Gaúcho