Opinião
Manoel Soares: "A violência transforma as crianças em adultos antes do tempo"
Colunista Manoel Soares fala sobre as consequências da violência na vida das crianças
Enquanto fazia para o Jornal do Almoço a reportagem sobre os dados de violência apresentados pelo Diário Gaúcho na edição de sexta-feira, visitei algumas escolas e fiquei apavorado. Crianças de cinco anos contaram com riqueza de detalhes como uma pessoa agoniza antes de morrer. Uma delas me relatou que o homem soltava sangue escuro pela boca e pedia água, mas ninguém dava. Ela terminou a história dizendo que, depois de um tempo, o homem começou a tremer e parou de se mexer.
Se você, que está lendo, ficou horrorizado, imagine isso para uma criança. Em outra escola de Alvorada, uma menina de 11 anos contou-me como a maconha causa fome e sono após o uso. Quando eu os perguntava qual era o seu brinquedo preferido, os estudantes riam como se eu estivesse tirando onda com a cara deles. A moral é que a violência que nos cerca está transformando crianças em adultos antes do tempo, e isso terá consequências.
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Acumular 6.408 mortes em cinco anos é ter milhares de crianças impactadas. Sempre é bom lembrar que um menino de 11 anos, daqui a dez, terá 21. Os homens de 21 anos que estão matando e morrendo hoje foram meninos que, há dez anos, acabaram esquecidos.
Crianças
Quem quer um futuro melhor precisa olhar para as crianças. O que elas veem e vivem hoje fará parte delas para sempre. Depois que alguém assiste a um ser humano morrendo violentamente, jamais verá a vida da mesma forma. Volta e meia, eu vejo as pessoas se perguntando de onde vem a frieza dos bandidos na hora de cometer crimes bárbaros. A resposta, por mais desconfortável que seja, é que essa frieza vem de berço e foi aprendida com os adultos.