Opinião
Carlos Etchichury: o discurso e os fatos
Colunista do Diário Gaúcho fala sobre as promessas de Michel Temer
Michel Temer assumiu o comando do país com três compromissos: combater a corrupção, governar com responsabilidade fiscal e fazer o Brasil voltar a crescer.
Em pouco mais de um mês no poder, o governo de Salvação Nacional ainda não fez o que prometeu. Temer e aliados escolheram ministros suspeitos de corrupção, aprovaram gastos públicos irresponsáveis, anunciaram cortes de quatro mil cargos de confiança, mas vão criar outros 14 mil e, até agora, não se vislumbra nenhuma medida consistente que aponte para a retomada do crescimento do PIB.
O mais grave é que Temer vacila no combate à corrupção. Os fatos, sempre eles, revelam um governo incapaz de romper com a estrutura responsável pelos ataques aos cofres públicos. Políticos conhecidos pelo apreço ao poder independentemente da ideologia ou da coloração partidária, Sarney, Jucá, Renan e Eduardo Cunha são os principais fiadores de Temer. Com exceção de Eduardo Cunha, afastado da presidência da Câmara pelo STF, todos foram flagradas em conversas suspeitas com Sergio Machado, apontado como operador do PMDB no Petrolão.
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Nos grampos que integram a delação premiada de Machado, além de deixar claro que têm algo a temer, os três sugerem que a deposição de Dilma era o caminho para "estancar a sangria" da Lava-Jato. Na sexta-feira, soube-se que a Secretária da Mulher, Fátima Pelaes, é suspeita de ter indicado uma ONG fantasma para receber R$ 4 milhões dos cofres públicos. Há outros ministros encrencados com a Justiça. Dois já caíram. Quem será o próximo?
Na semana passada, Temer, que criticava a gastança do governo Dilma, deu sinal verde para o Congresso aprovar a criação de 14 mil cargos federais. A medida integra o pacote de reajustes salariais para o funcionalismo. O projeto, que será analisado pelo Senado, favorece quem está no topo da pirâmide. Ministros do Supremo, por exemplo, passarão a ganhar R$ 39 mil mensais - é o STF quem conduzirá o processo de impeachment no Senado. O custo adicional aos cofres públicos, que Temer poderia ter evitado, é estimado em R$ 53 bilhões.
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Sem o respaldo das urnas e sem o apoio da classe média, Temer corre risco de não ser efetivado no poder. Os milhões de brasileiros que foram às ruas em março esperavam mais.