Rio de Janeiro
Escola pede que mãe corte cabelo dos filhos, e mulher denuncia racismo
Instituição nega preconceito e diz que comunicado foi motivado por surto de piolho em sala de aula
Mãe de duas crianças negras, a professora de canto Débora Figueiredo acusa o Educandário Eliane Nascimento, em Duque de Caxias, a 24 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, de cometer racismo contra os filhos. Na quinta-feira da semana passada, Débora recebeu um recado escrito pela coordenadora pedagógica da escola pedindo que cortasse ou trançasse o cabelo de Benício e Antônio, gêmeos de 3 anos.
O comunicado da coordenadora pedagógica diz: "Se possível, aparar ou trançar o cabelinho dos meninos, eles são lindos, mas eu ficaria mais feliz com o cabelo deles mais baixo ou preso". A mãe publicou uma foto do recado no Facebook dizendo que gostaria que os filhos não passassem por situações de preconceito. A postagem foi compartilhada mais de 3 mil vezes e gerou reações de solidariedade à mãe e de indignação contra a escola.
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Em entrevista ao Diário Gaúcho, a diretora Eliane Nascimento nega que a coordenadora pedagógica Franciane Silva Nascimento, que é sua filha, tenha agido motivada por preconceito. Eliane diz que o recado foi no sentido de combater um surto de piolho que teria acometido a sala de aula onde os gêmeos estudam.
– Essas crianças da Débora já vieram com o cabelo trançado para a escola. Então, a coordenadora, porque tem essa amizade com a mãe, fez o mesmo pedido. Foi em proteção a essas crianças – reafirma Eliane.
Segundo a diretora, a situação dos piolhos não foi explicada no bilhete por cautela: Franciane não queria passar a impressão de que a escola estivesse acusando alguma família, gerando, aí sim, suspeita de preconceito. Uma reunião com os pais foi realizada no dia 2 de junho debatendo diferentes pontos, inclusive a questão do piolho. Depois do encontro, uma circular foi enviada à casa das famílias resumindo os temas da reunião.
Em relação à frase onde a coordenadora diz que "ficaria mais feliz" caso os gêmeos tivessem o cabelo cortado ou trançado, Eliane diz que a filha tem costume de se expressar desse jeito, e que inclusive mantém contato frequente com a mãe das crianças por WhatsApp.
Segundo a diretora, a repercussão do caso na imprensa gerou desconforto entre os pais de outros alunos, que exigem que a escola tenha direito de resposta. Eliane diz não entender o que levou Débora a pensar que o recado tivesse viés racista.
– Só sei que tenho 20 anos de escola, há várias etnias aqui – defende-se.
De acordo com Eliane, uma reunião com a mãe dos gêmeos foi realizada nesta quarta-feira, na presença dos advogados de ambas as partes. Débora decidiu trancar a matrícula dos filhos. O Diário Gaúcho tentou entrar em contato com a mãe, mas não teve retorno até o fechamento desta matéria.