A triste história do cão que foi encontrado com um facão cravado na cabeça no Bairro das Rosas, em Estância Velha, revoltou muitas pessoas que acompanharam o caso. Porém, quem mais está sofrendo com o episódio, além do cachorrinho, é a família que o abrigou. Em conversa com o Diário Gaúcho, a dona de casa Marissol Vaz da Silveira, 38 anos, define o sentimento de impotência diante de uma atitude de tamanha crueldade contra um animal indefeso.

De acordo com o delegado Luiz Fernando Nunes, que está investigando o caso, uma testemunha teria apontado o autor do crime que, procurado pela polícia, negou ser ele. O delegado afirma que o suspeito irá prestar depoimento no decorrer do dia e, se ficar confirmado que ele é o autor, será indiciado.

Como ficou sabendo que o cachorro ferido com o facão era o teu?

Vi quando a viatura da Guarda Municipal parou em frente à minha casa. Um guarda desceu do carro e pediu que eu fechasse o portão eletrônico, porque estavam tentando capturar um cachorro. Na hora, pensei que estivessem atrás de algum cão brabo que poderia ter mordido alguém na rua. Fechei rápido o portão e saí para ver o que estava acontecendo. Quando olhei para o lado, estava o Guri num cantinho, tremendo muito e gemendo.

Qual foi a tua reação na hora?

Eu me desesperei. A gente fica sem saber como agir. Só queria que ele parasse de sentir dor. E não podia arrancar o facão da cabeça dele. Parecia que ele não ia resistir. O guarda chamou a veterinária Tatiana. Peguei um cobertor para aquecer o Guri e fiquei ajoelhada no chão com ele por 40 minutos até ela chegar para sedá-lo.

Como o Guri estava naquele momento?

Ele andou por seis quadras com o facão na cabeça até chegar em casa. Não sei como suportou a dor, como não desmaiou. É um cachorro muito dócil, não faz mal a ninguém. Nem mesmo morrendo de dor ele tentou morder a mim ou a um dos guardas. Sequer rosnou. Ele só tremia e gemia muito. Estava acuado num cantinho, mas quando me viu veio na minha direção e ficou bem paradinho, deitado, gemendo baixinho.

Como é o relacionamento do Guri com a família?

O Guri é um cão muito valente. Tem apenas três anos, mas já foi bastante maltratado. Sofreu com a crueldade do antigo dono. Apanhava muito. Quando apareceu na minha casa, estava debilitado, sem pelo nenhum e com a pele toda avermelhada. Tinha medo das pessoas que se aproximavam dele. Eu me aproximei aos poucos e cuidei dele. Dei remédio, água e comida. Ele acabou ficando aqui em casa onde ganha muito amor. Acho que tinha esquecido o sofrimento de antes, porque era dócil com todo mundo. Se dava bem com outros animais também. Tenho um filho de dois anos e o Guri é bastante cuidadoso com ele. Brinca sem machucar.

Ele está se recuperando bem?

Graças à Deus está melhorando. Já está comendo e tomando água sozinho. Depois de tudo o que ele sofreu até que está bem, porque quase não teve sequelas. Posso dizer que ele nasceu de novo. Hoje ele vai passar por mais duas cirurgias: a retirada do olho direito, porque ele perdeu a visão, e a castração. Acho que ele foi atingido por alguém quando tentava cruzar com uma cachorra no cio. O Guri é um cachorro de rua, é difícil mantê-lo preso. Ele dorme em casa e, de dia, acaba saindo para fora um pouco. Temos comércio em casa e o portão precisa ficar aberto. Ele sai às vezes para dar uma voltinha. Mas todos da região conhecem o Guri e se dão bem com ele. Não dá para entender o que passa na cabeça de uma pessoa para fazer tamanha crueldade.

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O que dizer para a pessoa que cometeu o crime?

Gostaria que essa pessoa repensasse tudo o que fez, porque existe Deus no céu e isso um dia volta. Tudo o que tu faz faz de bom ou de ruim um dia vai voltar pra ti. Não quero que ninguém faça mal para essa pessoa, mas peço que ele pare com isso. Ninguém é obrigado a gostar de animais, mas ele poderia apenas ignorar o cachorro ou reclamar para os donos, caso ele estivesse incomodando. Mas agir assim? Pra que isso? Por que tanta maldade com um ser indefeso?