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Manoel Soares: "a mãe, ao sair de casa, precisa dar beijo em seu filho como se fosse o último"

Colunista do Diário Gaúcho diz que, hoje, o medo maior não é de morrer, mas de como vamos morrer

23/07/2016 - 10h02min

Atualizada em: 23/07/2016 - 10h03min


Hoje, vi uma menina de seis anos assistindo ao enterro de uma amiga da mãe. Inocentemente, a criança perguntou à mãe se ela ia morrer também. A mãe só abraçou a filha. Acho que faltou coragem para dizer não. A impressão que tenho é de que nunca vi as pessoas com tanto medo, um clima de terror que abre as porteiras de nossa mente e coração para sentimentos e pensamentos há muito tempo enterrados.

Saber que jovens foram mortos à queima-roupa em tiroteio não choca, pelo contrário, traz um mórbido alívio. Ouvir falar em decapitações, estupros e atitudes que fazem alusão ao canibalismo humano viraram um cotidiano que, no dia seguinte, é passado, mas a morte mórbida de ontem não é passado. É um presente que guia nosso GPS social para o futuro.

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Assustador

O medo maior não é de morrer, mas de como vamos morrer. Seja com um pedaço de concreto caindo em nossa cabeça ou recebendo um tiro de um menino que ainda é virgem, porque temos meninos que não têm condições biológicas de gerar vida, mas que já têm poder para tirá-la.

No cenário em que a vida tem a mesma firmeza de uma folha de papel molhada em um tempestade, cada vez mais, a mãe, ao sair de casa, precisa dar beijo em seu filho como se fosse o último.

O crime assusta, mas, na real, ele só é uma face da dor que nos persegue, seja porque uma engenheira não calculou o risco de uma obra nitidamente ou porque um monitor de dependente químicos em um incêndio demorou a aparecer com a chave.

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A vida que já foi o bem maior hoje é o estado possível, pois tão perigoso como homens-bomba se explodindo pelo mundo é a rotina de uma família que, uma vez a cada dois meses, precisa fazer vaquinha para pagar um enterro. Vamos usar este fim de semana para ensinar aos nossos filhos e amigos que a vida não é um detalhe.



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