Sonhos de Natal
Campanha Sonhos de Natal reforça a solidariedade dos leitores do Diário Gaúcho
Quase 300 presentes enviados por leitores foram distribuídos pela equipe do Diário Gaúcho a outros leitores de Porto Alegre e de nove cidades da Região Metropolitana
Para ganhar um sorriso ou receber um presente não há época do ano ou idade. Mas, no período do Natal, mais do que presentear, o que vale é a emoção sentida num abraço sincero, vinda dentro de uma sacola repleta de material escolar ou de comida e, até, recebida numa mensagem de promessa de um novo emprego. E a campanha Sonhos de Natal, do Diário Gaúcho, iniciada em novembro e finalizada nesta semana, levou diferentes emoções a moradores de pelo menos dez cidades da Região Metropolitana.
Nos dias 19, 20 e 21, repórteres, assistentes, estagiários, telefonista, fotógrafos e motoristas do jornal percorreram as ruas de Porto Alegre, Alvorada, Canoas, Cachoeirinha, Esteio, Gravataí, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Viamão, servindo de ponte entre os que acreditaram no Papai Noel e os leitores anônimos que fizeram as doações. Ao contrário de outros anos, não foram apenas as crianças as contempladas com brinquedos e materiais escolares. Muitos adultos e idosos receberam um afago ao fazerem pedidos sinceros e incomuns. Como a dona de casa Cenira Almeida, 60 anos, do Bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo, que, de tanta felicidade, abriu o pacote recebido ainda no portão. Vivendo apenas com os R$ 70 mensais que recebe do Bolsa Família, Cenira admitiu na carta não ter dinheiro para minimizar as altas temperaturas do verão e, por isso, desejava ganhar um ventilador do Papai Noel.
– Tenho pressão alta e estou sempre com calor. Este presente veio na melhor hora! – comemorou, fazendo questão de apertar a mão do Bom Velhinho.
Faceira também ficou a dona de casa Astéria Haas, 58 anos, do Bairro Niterói, em Canoas, com os materiais para crochê e artesanato que ela recebeu. Na cartinha, ela contou gostar muito de trabalhos manuais, mas não tem como comprar os materiais. Ela ainda pediu uma cesta básica. Quando recebeu o presente, pediu um abraço apertado.
– Estou muito agradecida porque não esperava ser contemplada. Que coisa bonita esta solidariedade das pessoas – disse.
O mesmo gesto que garantiu o abraço de Astéria também chegou à casa de Jaci Manzoni, 55 anos, do Bairro Harmonia, em Canoas. Em seis linhas, ela pedia uma cesta básica e uma ceia de Natal porque está desempregada:
– Não tenho palavras para falar o que estou sentindo com esta ajuda.
"Melhor presente da vida"
Mas são as palavras da dona de casa Jane Regina Oliveira, 60 anos, do Bairro Aberta dos Morros, em Porto Alegre, que resumem o sentimento dos que receberam a visita do Noel do DG. Ao receber um envelope das mãos da equipe, Jane ficou em silêncio por mais de um minuto até suspirar e deixar a primeira lágrima escorrer dos olhos. Naquele instante, ela tinha acabado de ler a mensagem tão esperada por décadas: Papai Noel havia trazido um aparelho auditivo para o ouvido esquerdo. Uma empresa o doou para Jane.
– Meu marido está desempregado e só temos dinheiro para a comida. Este foi o melhor presente da minha vida! – exclamou Jane, enquanto abraçava apertado o Papai Noel.
Foram quase 300 presentes entregues em mãos. Ao longo de 450km, se multiplicaram os sorrisos, as lágrimas de alegria e os abraços. Com a ajuda dos leitores, o Diário Gaúcho ajudou a manter vivo o espírito natalino.
Vielas e lombas
Nem mesmo os endereços inexistentes no mapa e as ruas e vielas íngremes nas regiões periféricas da Capital e da Região Metropolitana fizeram o Papai Noel do DG desistir da tarefa. Por onde passou, o Bom Velhinho distribuiu e recebeu carinho de crianças e adultos.
Primeiro presente
Os olhos de Lucas Navarro, 12 anos, do Bairro Medianeira, em Porto Alegre, brilharam mais do que o laranja das chuteiras novas que ele ganhou de um doador. Era um sonho antigo do guri que diz jogar futebol em qualquer posição. No canto da sala, a avó, Marisa Machado, 65 anos, observava o neto, enquanto deixava as lágrimas rolarem.
– É um guri muito bom. Merece o presente que a gente não teria condições de dar – revelou.
Dezenas de pacotes
Quando os primeiros pacotes começaram a descer da van, crianças e adolescentes com idades entre seis e 14 anos começaram a sair pela porta principal do Centro Comunitário Paulo VI, na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre. Havia presentes para todos os 60 que participam das atividades do centro, existente há 14 anos. Cada criança enviou uma carta.
– O Sonhos de Natal é a oportunidade de realizar a alegria dos pequenos nesta época natalina – comentou a coordenadora da instituição, Denise Moraes.
Surpresa para a família Mariano
O pedreiro Fábio Mariano, 33 anos, do Bairro Restinga, em Porto Alegre, parou no portão de casa com o olhar fixo, enquanto caixas repletas de comida e de presentes eram levadas para a sala da casa de quatro peças onde vivem ele e os cinco filhos. Viúvo há dois anos, Fábio faz tratamento para a depressão. No dia da entrega, ele foi surpreendido pela carta da filha Bárbara, 13 anos, que estava na escola fazendo a última prova do ano.
– Desde a perda da minha mulher, vivemos tempos muito difíceis. Nem sei como agradecer o carinho destas pessoas que fizeram as doações – conseguiu dizer Fábio, antes de cair no choro e ser amparado pelos filhos.
Astrid e a árvore de Natal
Foi com palmas que Astrid Machado, cinco anos, do Bairro Partenon, em Porto Alegre, recebeu a visita do Papai Noel. Comunicativa, Astrid ganhou a Barbie tão desejada, mas fez questão de guardar um outro pacote dourado embaixo da árvore de Natal. A mãe da menina, a técnica em enfermagem Cátia Machado, 34 anos, apenas observava a felicidade de Astrid:
– Agradeço do fundo do coração quem nos ajudou. Será um Natal inesquecível para a minha filha.
"Vou ter o que comer"
Quando viu a equipe se aproximando, Maria Celoir Farias, 65 anos, do Morro da Cruz, acreditou que o Papai Noel se encaminharia à casa vizinha, onde há crianças. Enganou-se. Os pacotes contendo uma cesta básica e uma ceia de Natal eram para ela, que escreveu pela primeira vez na esperança de ter a mesa cheia na noite de 24 de dezembro. Em tratamento para um tumor no cérebro, Maria Celoir não tem aposentadoria e vive da ajuda de familiares e amigos. Na carta, ela dizia esperar ansiosa pelo presente. No dia da entrega, confessou não acreditar que a ajudariam por conta da idade.
– Achei que as pessoas só doassem para crianças. Ainda bem que leram a minha carta. Vou ter o que comer no Natal – desabafou.
Sorrisos e abraços
Misturando português e castelhano, Milagros Colombo, seis anos, não perdeu a chance de conversar olhos nos olhos com o Papai Noel. Natural de Paysandu, no Uruguai, a pequena vive há quatro meses no Bairro Cascata, em Porto Alegre, com o pai Jonas, 31 anos, e a mãe Lucia Colombo, 30 anos. E foi Lucia quem escreveu para a filha, na esperança de que a menina ganhasse uma lembrancinha pelo aniversário, comemorado sem festa ou presentes em 29 de novembro. Veio mais do que o pedido. Milagres ganhou uma bicicleta, bonecas e materiais escolares.
– Não tivemos condições de fazer uma festinha para ela. Estes presentes vieram na melhor hora – afirmou Lucia, enquanto a filha cobria o Papai Noel de abraços e beijos.
Ajuda para a família
As mãos da diarista Marta Helena Fontoura Serafim, 44 anos, do Bairro Rio Branco, em Canoas, tremiam tanto ao avistar o Papai Noel que ela quase não conseguiu segurar a cesta básica enviada por um doador. Marta Helena estava trabalhando quando foi avisada da visita natalina. Imediatamente, deixou o serviço e foi de bicicleta até a casa da família. Chegou quase sem fôlego, mas ainda teve tempo de pedir ao filho Leonardo, nove anos, para fotografá-la com o Noel.
– Quem ajuda é um abençoado. Estou sem emprego fixo e este presente vai deixar nosso Natal muito mais feliz – garantiu.
Abraço sincero
Foram dias de espera para Sophia da Silva Pasço, cinco anos, do Bairro Mathias Velho, em Canoas. Quem revelou foi o pai da menina, o balconista Fabiano Pasço, 30 anos. Desde que a família enviou a carta pedindo material escolar para a pequena, que ingressará no ensino fundamental em 2017, Sophia perguntava diariamente quando receberia a visita do Noel. Mesmo com a descrença de Fabiano e da mulher, Alessandra Pasço, 28 anos, a filha garantia:
– Vou ganhar, tenho certeza!
Ao ver o Papai Noel na porta da loja onde os pais trabalham e onde fica à espera deles, Sophia não se conteve: agarrou o Velhinho antes mesmo de receber o pacote. Foi um longo abraço até a menina pegar o presente e sumir para abri-lo. – Ela acreditou o tempo todo, e fez a gente acreditar também – comentou, emocionado, Fabiano.
CONFIRA, ABAIXO, O VÍDEO DAS ENTREGAS
Único presente
Desempregados há quase um semestre, Mariana Cruz, 19 anos, e marido Juliano dos Santos, 28 anos, do Bairro Vicentina, em São Leopoldo, decidiram enviar uma carta pedindo uma cesta básica. Foi a primeira vez que escreveram ao Sonhos de Natal. Mas na chegada do presente, quem mais fez a festa foi a filha deles, Valentina dos Santos, um ano e nove meses, que também foi presenteada com uma boneca.
– Devido às nossas dificuldades financeiras, eu estava triste porque não poderia dar nada a ela neste Natal. Vocês trouxeram alegria à minha filha. Muito obrigada! – agradeceu Mariana.
Para iniciar na escola
Foi com sorrisos que Yzadora dos Santos, quatro anos, da Vila Nazareno, em Esteio, recebeu os presentes que havia pedido: uma mochila e material escolar. A menina irá para o pré no próximo ano. Junto com Yzadora, os irmãos Michael, oito anos, e Estefani, 11 anos, também receberam presentes
– O senhor vai visitar muitas crianças? – perguntou, curiosa, ao Noel.
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Segundo ano
Pelo segundo ano consecutivo, a mãe de 14 filhos – sete deles adotivos –, Rosa Maria da Silva, 52 anos, de Gravataí, foi presenteada pelos leitores. Mãe biológica de sete filhos adultos, Rosa assumiu há um ano o desafio de criar os sobrinhos órfãos – Rafaela, três anos, Mariana, seis, Evelyn, oito, Emily, nove, Sabrina, 11 anos, Leandro, 15 anos, Sandro, 19 anos. Antes de morrer, Michele, irmã de Rosa, pediu que ela os criasse. Michele tinha 36 anos. O pai deles era separado da família.
– Foi com o coração que assumi esta responsabilidade. Farei o impossível para tê-los seguindo um bom caminho. Pela minha irmã e por eles – emocionou-se.
Para lembrar a mãe
Ao ver a equipe no portão de casa, Luciane Mendes, 43 anos, do Jardim Maringá, em Alvorada, não conteve o choro: lembrou da mãe, Iracema Mendes, falecida há seis meses. No ano passado, Iracema, aos 77 anos, escreveu uma carta pedindo presentes aos bisnetos. Quando recebeu a visita do Noel revelou que o maior presente seria abraçar o Bom Velhinho pela primeira vez. Neste ano, Luciane decidiu seguir a tradição da mãe e enviou cartas do DG. Ganhou presentes para o afilhado e para dois sobrinhos:
– Foi por ela que fiz este gesto. Minha mãe deve estar feliz vendo este momento.