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Carlos Etchichury: Antídoto para conversa fiada

19/02/2017 - 14h22min

Atualizada em: 19/02/2017 - 14h23min


Carlos Etchichury
Carlos Etchichury
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O descolamento da realidade migrou das campanhas eleitorais para a rotina de gestores públicos. É cada vez mais comum manifestações que contradizem os fatos.

Veja o exemplo da penitenciária federal anunciada para o Rio Grande do Sul. Em recente evento público, o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer, disse:

– Como o Paraná tem um presídio federal (em Catanduvas), o do Rio Grande do Sul deverá receber presos apenas do próprio Estado e de Santa Catarina.

Schirmer sabe, ou deveria saber, que os Estados não têm a gestão das cadeias federais.

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Inauguradas entre 2006 e 2010 e inspiradas nas intransponíveis supermax norte-americanas, as prisões têm um objetivo central: afastar líderes do crime organizado dos seus Estados de origem, neutralizando o cérebro de facções. Há quatro cadeias administradas pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) no país: Mossoró (RN), Porto Velho (RO), Catanduvas (PR) e Campo Grande (MS). Juntas, somam 665 vagas. Hospedam narcotraficantes, homicidas contumazes e assaltantes violentos de outras praças. As cadeias até podem ser importantes no combate ao crime organizado (embora críticos alertem para o risco de cavalo de troia, inoculando facções em diferentes Estados da federação), mas têm impacto mínimo na redução do caos prisional.

Os gestores locais sequer são questionados sobre as transferências de presos, que permanecem custodiados por agentes federais bem pagos e bem formados. A cadeia que poderá ser construída no Estado, portanto, além de pequena (deve ter entre 160 e 170 vagas) vai abrigar bandidos forasteiros. É um dado da realidade, independente da nossa vontade.

Dias depois da manifestação, por meio de sua assessoria, o secretário continuou propagando uma informação imprecisa:

– Embora essa definição caiba à Justiça Federal, com o aumento do número de presídios federais, dos atuais quatro para dez, o Ministério da Justiça poderá regionalizá-los.

Critérios mantidos

Procurado pelo Diário Gaúcho, o Depen esclareceu que os atuais critérios de lotação das prisões serão mantidos.

O fenômeno, é claro, não se restringe ao Estado. É internacional. Nos EUA, Donald Trump sustenta que a sua posse teve mais público que a de Obama. Mentira. Qualquer criança com mínima capacidade cognitiva é capaz de perceber, olhando fotos dos dois eventos, que Obama atraiu mais gente. Em Brasília, o presidente Temer assegura apoio irrestrito à Lava-Jato, mas as manobras políticas sugerem o contrário.

A informação de qualidade, apurada por jornalistas profissionais, é o principal antídoto que a sociedade dispõe para combater a conversa fiada. Estamos de olho.



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