Opinião
Felipe Bortolanza: "Procure a Polícia Federal pessoalmente, presidente"
Editor-executivo do Diário Gaúcho pede que Michel Temer abra mão do direito de responder à PF por escrito
Excelentíssimo presidente da República.
Sou cidadão brasileiro e preciso dividir meu constrangimento. Entendo que o senhor é a pessoa ideal para meu desabafo, que farei nesta carta. Dias atrás, o Brasil foi sacudido por um terremoto político.
O epicentro tem nomes e sobrenomes: Michel Miguel Elias Temer Lulia. Nos santinhos das campanhas eleitorais, resume- se a Michel Temer.
Pois bem. Imaginei que a sucessão de escândalos tinha terminado no segundo capítulo. Relembrando:
1) O senhor foi gravado dentro da própria casa por um amigo-empresário, deu a entender que apoia o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e nem se insurgiu diante da confissão de Joesley Batista de que comprava juízes e um procurador da República.
2) No dia seguinte, o senhor empenhou sua palavra garantindo inocência, se dizendo vítima de uma gravação feita de forma clandestina. E disse mais: "Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro".
É justamente nessa frase que me agarro para sustentar esta carta. Fosse eu o chefe da nação e tivesse a certeza plena de meus atos, faria mais do que exigir investigação. Me levantaria do trono e procuraria a primeira sede da Polícia Federal para me defender.
Procure a PF pessoalmente, presidente
E o que ocorreu ontem é o terceiro capítulo lamentável deste terremoto. Após o ministro Edson Fachin, do STF, autorizar o seu interrogatório no inquérito das delações premiadas dos donos da empresa JBS, soubemos que o senhor vai responder à Polícia Federal... por escrito! Será que isso é verdade, excelentíssimo?
Sei que é direito de um presidente responder desta forma num prazo de 24 horas. Mas seria importante vê-lo se defendendo diante dos policiais. Tens boa retórica, és homem experiente, político calejado. Abra mão deste direito e sente diante dos interrogadores! E mais: peça detector de mentiras para a sua cadeira.
Ficar vermelho, gaguejar ou se contradizer é um risco, sabemos. Mas que tal encarar? Ou há algo a temer?