Papo reto
Manoel Soares e o sonho do Brasil de ter um herói que o livre da corrupção
Colunista fala sobre a importância de cada um ser o seu próprio herói
Meu irmão Daniel é desenhista profissional e apaixonado por super-heróis, em particular, pelo Batman. Eu sempre tive um pé atrás com heróis. Não que eu não goste, mas temo pelo efeito que eles provocam em nossas vidas.
No caso do Batman, a polícia de Gothan City ficou desvalorizada com o surgimento do Homem-morcego que prende bandidos. Com o Super-Homem, não é diferente. Quando um prédio pega fogo, os habitantes de Metrópolis chamam primeiro o Homem de Aço, antes mesmo dos bombeiros.
Esses são alguns dos problemas causados pela existência de heróis: as pessoas ficam de braços cruzados, confiam pouco nas instituições e, quando o herói, não vem, se sentem indefesas. O Brasil sonha em ter um herói, alguém que o livre da corrupção, que traga igualdade social e racial, que dê dignidade perante a família e o mundo. Mas a verdade é que a ideia de ter um herói só funciona na ficção, e o escândalo da JBS é uma prova disso.
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Vida real
Somos, aqui no Estado, mais de 10 milhões de heróis. Se não lembrarmos disso todos os dias, seremos coitadinhos inocentes que sonham em ser carregados no colo, mas, na vida real, seremos assados no espeto da desigualdade e fritos no óleo da corrupção. O herói é quem nos liberta de alguma dor que nos aprisiona, mas liberdade dada não é liberdade, é permissão. A real liberdade é conquistada, então, seja o seu próprio herói.