Opinião
Felipe Bortolanza: pouco pão, muito circo
Editor-executivo do Diário Gaúcho fala sobre a bagunça no trabalho do Senado
No antigo Império Romano, para tentar minimizar as diferenças de posses entre os nobres e os plebeus e conter possíveis revoltas que ameaçariam o sistema político, os governantes decidiram dar alimentos e diversão para os mais pobres. Então, começou uma farta distribuição de trigo às classes menos favorecidas. E, ao mesmo tempo, a população era convidada a assistir a espetáculos como lutas entre gladiadores e feras selvagens. Essa prática, com algumas adaptações entre historiadores, foi a base da conhecida política do Pão e Circo.
Lembrei deste fato antigo das aulas de história na tarde de ontem ao assistir à sessão do Senado que trata da reforma trabalhista. Se este assunto polêmico se concretizar em sua plenitude (até a hora em que escrevia, o bate-boca era tamanho que o final da sessão era imprevisível), não tenho ideia do impacto na mesa do trabalhador.
Oposicionistas dizem que o pão do trabalhador está a perigo, enquanto os favoráveis garantem que as novas leis vão melhorar a vida dos brasileiros mais pobres.
Só nos enche de vergonha
A única certeza que tenho é de que a classe política do Brasil está conseguindo fornecer o segundo item da famosa prática romana – o circo. Nisso, ontem, o Senado foi excelente. Percebam o roteiro: o presidente do Senado se atrasa, quatro senadoras tomam conta da mesa, se negam a sair, trancam a sequência dos trabalhos, os microfones ficam mudos e, diante da confusão sem fim, as luzes do plenário são cortadas.
Leia outras colunas de Felipe Bortolanza
O Senado ficou quatro horas só iluminado pelos visores dos celulares! E as mulheres lá, almoçando, filmando, tirando fotos. Na plateia, os colegas batem boca, se xingam, trocam acusações. As luzes voltam e o impasse continua. Somente após seis horas, o presidente retoma seu lugar.
Em vez de gastarem o tempo debatendo, os nobres senadores e senadoras fizeram um papelão. Ganham altíssimos salários e dão péssimos exemplos. Nos resta rir para não chorar diante de tamanhas palhaçadas.
Não é com bagunça que o povo terá seu pão. Bagunça é circo. E circo não enche barriga. Só nos enche de vergonha.