Televisão
Escultura desperta curiosidade nos moradores do bairro Restinga
Estátua é uma homenagem ao super-herói criado por morador do bairro e que ganhará série, a partir de 2019
Correção: a música adaptada do personagem de quadrinhos Super Tinga, do vídeo que faz parte desta reportagem, pertence ao autor Luciano Moucks e a produção da música é de Marcelo de Aguiar Rodrigues e Alecsandro Feijó Resin – que também canta a música –, diferente do publicado entre 18h57min de 20 de julho de 2018 e 21h52min de 23 de agosto de 2019. A informação no vídeo já foi corrigida.
Esculpida em concreto e com 3m de altura, uma estátua ainda em construção está despertando a atenção de quem passa pela Esplanada, no bairro Restinga, no Extremo Sul de Porto Alegre, desde o início desta semana:
– É um Exu? – perguntou um homem.
– Parece um santo! – especulou uma senhora.
– Mas ele ainda está pelado! – comentou mais uma pedestre.
– É a prefeitura quem está construindo? Se for, deveria usar este dinheiro para investir em saúde e educação! – esbravejou um morador mais exaltado.
Enquanto os adultos batiam cabeça, foram as crianças as primeiras a identificarem a obra:
– Olha, tia, é um super-herói! – afirmou Murilo Vieira, quatro anos, enquanto pedia para a cuidadora Márcia Gonçalves, 40 anos, tirar uma foto dele ao lado da estátua.
Para a alegria de Murilo e dos primos dele Guilherme Vieira, três anos, e Maria Tereza Gonçalves, 14 anos, um homem usando tranças no cabelo, luvas e botas de borracha, macacão amarelo e uma capa preta com um grande T em amarelo surgiu de trás da estátua. Era o Super-Tinga, em carne e osso! Imediatamente, Márcia tirou fotos dos meninos ao lado do herói nascido no bairro.
– Estávamos curiosos para ver do que se tratava. A Restinga sempre é vista por coisas ruins. Agora, temos um super-herói para chamarmos de nosso – comentou Márcia.
Criado no final da década de 1990 pelo roteirista de quadrinhos, cineasta e morador do Bairro Restinga Luciano Moucks, Super-Tinga saiu do papel para chegar à televisão. E tem um motivo a colocação da estátua, construída pelo escultor Fernando Ulisses Guimarães, 37 anos, também morador da Restinga: ela fará parte das gravações da série Super-Tinga e a Abelha Girl, uma produção de 13 episódios de 26 minutos, cada, selecionada com outras 50 obras, entre mais de 800 roteiros inscritos, pelo programa Brasil de Todas as Telas, da Agência Nacional de Cinema (Ancine), financiado via Fundo Setorial do Audiovisual, com apoio do Ministério da Cultura.
– Super-Tinga é o herói clássico, mas com uma diferença: escolheu seguir na periferia onde nasceu. Ele tem como superpoderes o acreditar sempre (fé), a escolha de dar uma segunda chance a todas as pessoas e o resgate da autoestima dos cidadãos – explicou Luciano.
Fã de Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone no cinema, Luciano revela que a inspiração para a criação da estátua veio do filme Rocky 3, quando uma estátua de bronze do personagem foi instalada em frente ao Museu de Arte da Filadélfia (EUA).
– A Tinga também terá o seu herói para sempre – justifica.
Na série para a televisão, Super-Tinga, um herói já experiente, ensinará os conhecimentos à discípula Abelha Girl. A jovem, uma estudante de Jornalismo de 18 anos, acredita na máxima "bandido bom é bandido morto". Tinga mostrará um outro caminho antes de ela se tornar uma grande heroína.
As gravações já estão ocorrendo e a série tem previsão de conclusão até o segundo semestre de 2018. Ela passará em mais de 200 canais públicos, em diferentes países de língua portuguesa, a partir de 2019.
Para a produção, Luciano fez questão de selecionar atores ligados ao bairro. Super-Tinga é interpretado pelo segurança do Tribunal de Justiça, ator e carnavalesco Paulo das Neves, 49 anos, que há seis anos veste o personagem. A cada nova cena gravada nas ruas do bairro, Paulo é abordado por um curioso. Feliz pelo reconhecimento, ele recebe a todos com paciência. Abraços e beijos são comuns entre os que conversam com o super-herói.
– Vivo na Restinga desde antes de ela ser chamada de Restinga. E é a primeira vez que temos um herói nosso. É uma grande satisfação – comentou, orgulhoso, o aposentado João Carlos da Silva, 70 anos, antes de pedir um abraço a Paulo.
Como contrapartida da série para a comunidade, Luciano está construindo a escultura e uma praça para as crianças do bairro no terreno da Casa da Sopa. Ele teve o consentimento da direção da entidade. Nos pés da imagem, que ficará revestida por um vidro blindado, será colocada a história do herói e da paixão dele pelo bairro.
– Ele é um cidadão da paz, que só deseja proteger as pessoas – definiu o cineasta.
A própria trilha de abertura da série, composta por Luciano, resume o herói: ele veio para proteger, salvar e tem um coração que lhe dá razões para voar.