Coluna da Maga
Magali Moraes escreve sobre doação de sangue e Enem
Sabe o Enem, Exame Nacional do Ensino Médio, que é a porta de entrada pra muitas faculdades públicas? Quem quer Medicina, por exemplo, precisa ir muito bem no Enem. Quando fiz vestibular, ele nem existia. Foi criado em 1998 e sua nota serve até pra estudar fora do país. Lembrei do Enem ao doar sangue pra minha mãe. Fui reprovada. E isso acontece com muita gente bem intencionada pra ajudar.
Semana passada, depois da cirurgia de quatro pontes de safena e uma mamária, minha mãe estava se recuperando direitinho. De uma hora pra outra, teve tamponamento cardíaco (sangramento que impede o coração de bater) e voltou às pressas pro bloco cirúrgico, a tempo de ser salva. Perdeu dois litros e meio de sangue, e eu quase morri com ela. O hospital não obriga ninguém a repor. A doação é voluntária. Mas é uma questão de consciência, solidariedade e agradecimento.
Excesso de zelo
Fiz um pedido por doadores nas redes sociais. Meu post foi compartilhado quase 70 vezes, alcançando milhares de pessoas. E ainda não consegui os 14 doadores necessários. Sim, é difícil passar na triagem. Cai tudo na prova oral. Até uma viagem recente pode te impedir de doar. Hepatite, pigmentação de sobrancelha, tatuagem, tratamento dentário, vida sexual, horas de sono e da última alimentação, gripe, sinusite, uso de antibióticos e anti-inflamatórios. A lista é grande e a análise do sangue pode te reprovar.
Confesso que eu achava excesso de zelo. Até ouvir do médico que a mãe, depois de sobreviver às duas cirurgias, ainda corria risco por todo o sangue recebido. Mudei de opinião na mesma hora. Que o Enem do sangue seja cada vez mais rigoroso. A saúde de quem recebe a doação é extremamente frágil. E se alguém mentir? Pensei na Medicina, tão difícil de entrar. E me dei conta de que a gente não precisa ser médico pra salvar vidas. Basta doar sangue. Obrigada a quem nos ajudou ou tentou! Seguimos precisando.