Papo Reto
Manoel Soares fala sobre dons e defeitos
Colunista conta história de sua infância para mostrar que aquilo que, à primeira vista, parece um defeito, pode se tornar uma qualidade
Defeito e dom começam com a mesma letra e, às vezes, ocupam o mesmo lugar em nossa vida. Eu, na escola, era o menino do fundo da sala, que falava sem parar. Minhas professoras passavam boa parte da aula me mostrando que falar não positivo para mim. O que talvez elas não soubessem é que meu defeito na sala de aula era meu único dom.
Eu decepcionei aquelas mestres e não consegui calar a boca. No máximo, escolhia quando e o que falar. Olhando à nossa volta, identificamos defeitos nos jovens e tentamos corrigi-los, mas, talvez, essa não seja a pegada ideal. Todo pecado esconde uma virtude, e aos sábios cabe identificar que virtudes são essas. Um menino agitado pode ser um ótimo esportista, um introvertido talvez esconda uma habilidade com números até então não revelada. Tentar mudar pessoas geralmente dói nelas e em nós. O ideal é conduzir essa potência que se manifesta em forma de excesso para que seja alcançado um equilíbrio produtivo.
Linha fina
O que fez um menino desbocado da favela ser apresentador da Globo é o cuidado de pessoas que me ensinaram que a linha que divide o defeito e o dom é fina, e que nós podemos ser o que quisermos, desde que sejamos nós mesmos. Eu não parei de falar, mas consegui fazer com que a maior emissora de TV do Brasil me pagasse para continuar falando. E você, vai fazer o que com o seu defeito?