Papo reto
Manoel Soares: "Quando me olhava no espelho, via um herói, mas, por vezes, fui o inverso"
Achava que mulheres e crianças da minha família só sobreviveriam com minha bênção
Como não tive um pai presente, sempre entendi que ser homem era fazer o que a minha mãe fazia. Ela protegia a mim e aos meus irmãos de tudo. Mesmo sem grana e com pouco estudo, nos blindou de destinos trágicos que cercavam nossa vida. Entendi que ser homem era ser protetor e dar aos mais vulneráveis o que eu achava ser correto.
Mas a vida me preparou uma cilada e fez de mim um preconceituoso, dominador, machista e misógino em um grau que nem eu sabia que era. Achava que mulheres e crianças da minha família só sobreviveriam com minha bênção. Todos que, na minha visão, fossem fracos, tinham que obedecer minhas orientações. Não somente para o bem deles, mas para que eu tivesse a sensação de missão cumprida. Nisso, aqueles que não abandonaram seus sonhos para me agradar têm em mim uma figura de ditador.
Quando me olhava no espelho, via um herói, mas, por vezes, fui o inverso. Para minha família, peço desculpas. Você que está lendo pode se perguntar: "E eu com isso, Manoel?". Talvez, conheça um amigo ou familiar linha-dura que acha que está sempre certo. Mandá-lo ler este texto é a oportunidade de dizer a ele que precisa mudar. Assim como eu, eles podem nem saber o mal que mora no bem que tentam fazer. Leve o jornal para eles.