Coluna da Maga
Magali Moraes e aquele gelo salvador que cura quase tudo
Uma pisada em falso, uma dor de revirar os olhos, um tornozelo virado. Essa foi a última coisa que eu fiz ao sair do trabalho esses dias. Um minuto de distração e aiiiiiii. Agora tô aqui, botando gelo pra ver se desincha. Ficar parada é missão impossível. A mancadinha é discreta. Ao longo do dia, o inchaço varia de tamanho. De manhã, uma bola de gude. De noite, meia bola de pingue-pongue. Se virar bola de tênis, ferrou. Como não dói mais, por enquanto vou levando. Você também faz dessas?
O problema é a disputa por gelo. As duas bolsas térmicas de gel que moram no freezer não estão dando conta do serviço. Ultimamente, elas já caminham sozinhas até os joelhos do meu marido. A competição é grande. Me resta esvaziar as forminhas de gelo e apelar pro saco plástico. Aquele que fura e pinga por tudo, sabe? E tem o spray de Gelol, sempre à mão no banheiro pra quebrar galho. Mas quando chega a minha vez de usar, descubro que acabou. Família esportista é assim. Eles se machucam nas quadras, eu numa escada de dois degraus.
Barulhos estranhos
Nessas horas, lembro dos eletrodomésticos. Tá tudo funcionando, de repente estraga. Nosso corpo também pede manutenção. O joelho que faz barulhos estranhos como a máquina de lavar. O fio do ferro aberto na ponta, tipo fratura exposta. O naco que arrancou da pele, igual ao naco de madeira que lascou da mesa. Paredes com pequenas cicatrizes, como nossas pernas e braços. A fechadura da porta e o ombro que estão meio emperrados. O canto quebrado do vidro e da unha.
Na sua casa, o gelo é mais usado pra encher o copo ou pra acalmar o joelho, coxa, pescoço, cotovelo, pulso? As bolsas térmicas de gel, por mais práticas que sejam, perdem logo o geladinho. Nada supera o bom e velho gelo. Vontade de botar uma rodela de limão em cima. Peraí. Isso eu faço depois, agora preciso resolver o tornozelo. E dar mais atenção a essa máquina frágil que é o corpo humano.