Economia
Reajuste do salário mínimo: o que dá para comprar com R$ 17?
Trabalhadores ouvidos pelo DG consideram vergonhoso aumento de 1,81% do salário mínimo que passou a vigorar ontem
Da próxima vez que Ivanilda de Campos, 73 anos, ir receber a sua aposentaria, pouco ou quase nada sentirá de diferença ao sacar o salário mínimo que retira todos os meses. Para ela, o reajuste dado pelo presidente Michel Temer na última sexta-feira, de 1,81%, é tão pequeno que é praticamente imperceptível.
— Quando pego meu salário, ele nem chega até minha casa. Gasto no caminho com o supermercado, farmácia e outras contas. E vai continuar assim — lamenta.
A impressão de dona Ivanilda não é à toa: o reajuste é o menor desde a criação do Plano Real, em 1994. O salário mínimo, que serve de referência para 45 milhões de pessoas no Brasil, era de R$ 937 e passou para R$ 954, aumento que vigora desde ontem. De 2016 para 2017, o reajuste feito foi de 6,48%.
Cinco abacaxis
Com R$ 17 a mais na conta, dona Ivanilda, que vende churros na Redenção para complementar a aposentadoria, sequer poderá comprar as duas opções de recheio de usa para o seu doce: chocolate e doce de leite, que custam, cada um, R$ 10 o quilo. O valor também não é suficiente para comprar nenhum dos medicamentos que ela usa para hipertensão, diabetes e osteoporose.
— É a vergonha do Brasil esse aumento. A gente ouve tanta notícia de roubalheira entre políticos e o pobre ganha tão pouco — diz ela.
No caminhão de Adriano Nascimento da Silva, 48 anos, R$ 17 compram "cinco abacaxis pequenos e olhe lá". O agricultor de Terra de Areia vê como um deboche um aumento de 1,81%, enquanto itens como gasolina, energia elétrica e gás de cozinha subiram muito mais.
— Esse aumento é até vergonhoso. É a mesma coisa que nos darem um tapa na cara e ir embora. Se é para dar R$ 17 de aumento, nem dá nada. Se o salário das pessoas não estiver mais ou menos, eu não vendo. É complicado a pessoa trabalhar o mês inteiro e não poder comprar uma fruta.
Só um sorvete
O casal Luciana Rushel de Alcântara, 41 e Vitor Holz de Alcântara, 42, de Santa Cruz do Sul e que veio passar o Ano-Novo com a família na Capital, calcula que com apenas R$ 17 comprariam um sorvete e uma água. Nada mais. Com este valor, possivelmente só poderiam agradar a filha Anita, seis anos.
— É tão pouco que não pagaria um lanche para todos nós. É uma vergonha, um aumento que não faz diferença nenhuma — compara a enfermeira.
— No supermercado, daria para comprar um pouco de pão e leite. É quase nada de aumento — avalia o empresário.
Como o salário mínimo é reajustado?
— Todos os anos, o aumento do salário mínimo corresponde à variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes mais a inflação do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
— No caso do reajuste de 2018, foi levado em conta o PIB de 2016, que foi de queda de 3,6%, com o INPC de 2017. Já que o resultado do PIB de 2016 foi negativo, o reajuste do salário mínimo foi feito apenas com a variação do INPC, de 1,81%.
Histórico de reajustes do salário mínimo
2018: 1,81%
2017: 6,48%
2016: 11,68%
2015: 8,84%
2014: 6,78%
2013: 9%
2012: 14,3%
2011: 6,7%
2010: 10,67%