Criminalidade
Diário de um carro depenado: Monza tem desde retrovisor até as quatro rodas furtadas
Veículo, um dos cinco carros mais levados por criminosos na Capital, foi levado na frente da casa do dono
Carros estranhos à comunidade aparecem abandonados com relativa normalidade na Rua Norberto Motola, na Vila Augusta, em Viamão, bem próximo do limite com Porto Alegre, justamente no eixo da Avenida Protásio Alves, considerada um dos principais foco de roubos e furtos de veículos na Capital. Na manhã de 30 de janeiro, um Monza vermelho, ano 1993, com registro de furto, foi deixado na Vila. Passou uma semana e, a cada dia, um pedaço do carro, literalmente, desaparecia ao amanhecer.
E já que a polícia não apareceu para recolher o veículo, um motorista de 32 anos, morador da região, resolveu registrar um verdadeiro diário do desmanche.
— Fiz uma foto no dia em que apareceu e mandei para a Polícia Civil. Disseram que viriam buscar o carro, e não apareceram. A Brigada Militar também não apareceu quando ligamos. Como tinha a foto do carro inteiro, fiquei com pena do dono quando comecei a perceber que estavam depenando o Monza — conta.
Logo na primeira noite, registrou que os espelhos retrovisores foram levados. Vinte e quatro horas se passaram, e o carro também já não tinha os faróis dianteiros e partes do motor.
— De madrugada, só escutamos o barulho. É perigoso para nós, mas vamos fazer o quê? Mandar parar? Durante o dia, a polícia passa por aqui e nem para. Volta e meia aparecem carros abandonados aqui, mas geralmente a Brigada recolhe logo — conta uma moradora de 35 anos.
Preocupados com a situação do Monza que, além de desmanchado, já juntava sujeira em poucos dias, os moradores espalharam a notícia em seus perfis pessoais nas redes sociais. Mas não adiantou, o diário do desmanche seguiu firme.
— Segunda (dia 5) dei uma olhada e vi que tinham tirado mais uma parte da frente do carro, mas quando acordei terça, tive de fazer outra foto. Levaram as quatro rodas — comenta o motorista.
Na quarta seguinte, um dos vidros dianteiros, até então intacto, amanheceu estilhaçado, com uma pedra caída entre os bancos. Ainda não havia começado a depredação no painel, ou nos bancos. Na vizinhança, a espera era para que autoridades recolhessem o veículo, o que aconteceu na semana passada.
— Eles (ladrões) são rápidos. Em uma semana, estão levando quase tudo. A gente só cuida, de manhã, o que está faltando e tenta de novo chamar a Brigada — diz um morador de 50 anos.
Carro foi levado da frente de casa
O Monza havia sido furtado na madrugada de 30 de janeiro da frente da casa do aposentado Régis Eli Silva dos Santos, 57 anos, na Rua da Páscoa, bairro Bom Jesus. Uma situação que nunca imaginou passar com um carro com 25 anos de uso.
— Era o meu carrinho que hoje usava para ajudar os familiares e amigos, levando o pessoal para hospital ou dando carona. Naquela madrugada, deixei estacionado na rua, como sempre. E quando acordei, já não estava ali — conta.
Desde 2009, Santos tem o carro. Na época, trabalhava como motorista na coleta de lixo. Ao saber que o seu Monza foi encontrado — e uma semana depois estava depenado —, ele se conforma
— Uma pena, não sei se vai dar para recuperar alguma coisa, né.
Conforme um levantamento divulgado pelo GaúchaZH, o Monza é um dos cinco carros mais furtados na Capital. O objetivo, segundo a polícia, é quase sempre o desmanche para a venda de peças. Desta vez, o veículo entrou para outra estatística. Em média, 63% dos veículos roubados ou furtados no Estado são recuperados.