Papo Reto
Manoel Soares fala sobre a importância do Carnaval
" Nossa briga não é pelo samba, mas pelo que o samba faz", afirma o colunista
Quem já entrou em uma bateria de escola de samba durante um ensaio saberá sobre o que é este texto. Pessoas de todas as cores, tamanhos e sexos no mesmo ritmo. Os magros com instrumentos gigantes, caras gigantes com instrumentos pequenos, pessoas importantes da comunidade segurando um chocalho, pessoas simples com apito na boca e comandando a massa, pessoas com deficiência se superando em nome do ritmo e andamento do todo.
Saindo da bateria, observando o restante da escola, vemos crianças decorando letras de músicas que trazem história, crítica social e perspectiva de mundo. Invisíveis, viram destaques. Naqueles minutos, sentem como é ser o centro das atenções. Senhoras idosas com doenças crônicas parecem se curar naqueles dias para viver a emoção da escola delas na Avenida. Assim como yoga e outras terapias curativas que alinham corpo e alma, a Avenida é o posto de saúde do espírito.
Escola de samba é o local onde o indivíduo jamais é maior que o todo, uma ópera popular onde cada um tem seu papel. Entram e saem de cena, dando espaço para o brilho do outro com solidariedade e serenidade. Esta disciplina acompanha o indivíduo para a vida. Forma cidadãos.
Porém, esta disciplina se perde se decidimos abrir mão de esforços para botar as escolas na Avenida: perdemos educação, segurança e até mesmo saúde. Nossa briga não é pelo samba, mas pelo que o samba faz.