Papo reto
Manoel Soares: "Marielle está presente!"
Colunista fala sobre o exemplo da vereadora do Rio, Marielle Franco (Psol), assassinada a tiros
Sabe quando sua mãe saía antes de você acordar para fazer faxina? Sua mãe era Marielle. Sabe quando você via uma menina lendo livros da escola no ônibus em movimento? Essa menina é Marielle. Lembra de sua avó lhe ensinando a importância da família? Sua avó era Marielle. Lembra das meninas na sala de aula querendo jogar futebol como os meninos e jogando melhor? Elas eram Marielle.
E a brigadiana que vai verificar uma ocorrência de Maria da Penha em um beco escuro? Ela também é Marielle. A professora que ganhando um salário ruim não desiste da educação dos alunos? Ela é Marielle. As mulheres que não aceitam ser encoxadas ou que apalpem outras no trem lotado? Elas são Marielles. Marielle está nisso tudo.
Quem atirou, acha que matou Marielle, mas multiplicou Marielle, fez ela brotar em cada ato de luta por uma vida melhor. Marielle deixou de ser nome de pessoa e passou a ser adjetivo.
Queremos fazer brotar a Marielle que existe em nós, fazer ela bradar alto e em bom som dizendo que para cada Marielle assassinada nascerão mais 1000. Não existem balas capazes de matar todas as Marielles desse Brasil, pois se não conheciam a fúria das mulheres das quebradas, agora vão conhecer.
Está presente!
Assim como uma hidra do bem, a cada decapitação vamos multiplicar nossas cabeças e ideais por becos e vielas escondidos dos olhos machistas, racistas e homofóbicos que acompanham os velórios de nossos heróis como cerimônia de vitória.
Podem até ter acertado os tiros, mas erraram o alvo, Marielle está viva, está multiplicada, disposta a fazer com que cada gota de sangue que escorreu seja um oceano de justiça para pessoas como ela. Favelados, quando bater o desespero, olhem nos olhos da mulher guerreira mais próxima e vejam: Marielle está presente!