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Solidariedade

Chicote Nunca Mais precisa de ajuda para construir sede

 Entidade fundada há uma década, em Porto Alegre, cuida de cavalos idosos abandonados

02/04/2018 - 07h10min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Lauro Alves / Agencia RBS
Cavalos estão numa hotelaria

Pioneira no resgate de cavalos em situação de vulnerabilidade, a ong Chicote Nunca Mais, de Porto Alegre, definha sem um lar definitivo para abrigar os 28 animais idosos que seguem sob responsabilidade da entidade. Há quatro meses, a organização, que completa uma década neste ano, perdeu o espaço que mantinha alugado e hoje deixa os cavalos provisoriamente hospedados numa cabanha de Gravataí. 

Na tentativa de reverter a situação, a fundadora da ong, Fair Soares, 69 anos, mantém uma campanha aberta no site da entidade para conseguir os R$ 30 mil necessários que pagariam a mão de obra e o material para a construção da sede própria. O terreno já existe. 

— Nossos cavalos são idosos e, alguns, deficientes. O trabalho da ong funciona como uma geriatria. Nós precisamos de uma cama quentinha, um local abrigado das intempéries para poder mantê-los ali dentro. Eles não estão para doação. O que fazemos é o apadrinhamento deles — explica Fair. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Fair fundou a entidade para salvar cavalos abandonados

A Chicote Nunca Mais surgiu por acaso, depois de Fair, que é nutricionista, deparar com uma égua morta na Avenida Assis Brasil, Zona Norte da Capital. O animal havia sido chicoteado até a morte. 

— Chorei sentada ao lado dela. Ali mesmo prometi que a morte dela não seria em vão — recorda. 

Naquele mesmo ano, Fair soube que a EPTC leiloaria 30 cavalos idosos e maltratados. Indignada, reuniu uma advogada e uma veterinária e exigiu da promotoria de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre que suspendesse a venda. Na época, a ong ainda não existia. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Fair quer dar conforto aos cavalos idosos

— Quando a promotora perguntou quem eu era, disse que fazia parte de uma ong de proteção aos cavalos. Ela, em seguida, perguntou o nome da ong. Fiquei em silêncio por uns segundos e lembrei da água morta na avenida. Na hora, falei: Chicote Nunca Mais! A ong surgiu assim — revela. 

A promotoria acatou o pedido, mas determinou que Fair ficasse com os 30 animais. Cada um saiu pelo lance mínimo de R$ 100. A nutricionista reuniu amigos, conseguiu o dinheiro e em três dias distribuiu 17 deles a cuidadores espalhados pelo Estado. Os outros 13 ficaram com Fair. Foram os primeiros acolhidos pela ong que se formava naquele momento. 

Carinho e olho no olho: os melhores remédios
Chico, um cavalo de cor marrom e olhos caídos, é o único que ainda resta daquela primeira leva de animais recebidos pela Chicote. Fair calcula que ele esteja próximo dos 30 anos de vida. Dócil, Chico gosta de afagos. Basta a amiga se aproximar e olhá-lo nos olhos para que recoste a cabeça sobre o peito da nutricionista.

— Trabalhei muitos anos em hospital, com muita gente, com humanos. Mas depois que comecei a trabalhar com cavalos, tenho certeza de que virei uma pessoa muito melhor — afirma. 

A dedicação da ong vem ganhando reconhecimento. Em 2016, a Chicote Nunca Mais foi a primeira organização não-governamental a receber o prêmio Destaque Veterinário, do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV/RS). Na busca por qualidade de vida para animais que já passaram por sofrimento, a ong desenvolveu métodos para restabelecer as funções físicas deles. Os equinos recebem tratamento com cálcio e passam por terapias desenvolvidas pelo veterinário Francisco Gusso. Animais que chegaram à ong com fraturas ou problemas de marcha acabam voltando a andar depois de receberem tratamento adequado e uma boa dose de carinho. 

— Tu aprende a conversar por telepatia, aprende a olhar nos olhos deles (cavalos). E quem aprende a olhar nos olhos de um animal, aprende a olhar nos olhos de gente — resume, emocionada, Fair.  

Lauro Alves / Agencia RBS
Cavalos estão numa cabanha

Para ajudar
* A Chicote Nunca Mais ainda não possui um espaço próprio para abrigar os cavalos resgatados.
* Os animais não estão para a adoção.
* Interessados em ajudar podem se tornar tutores _ o voluntário cuida do cavalo, no seu próprio sítio, mas o animal segue sob responsabilidade da ong.
* Outra forma de ajudar é apadrinhando um cavalo _ hotelaria e alimentação podem ser pagos.
* Mensalmente, os gastos chegam a R$ 15 mil (ração e alfafa, hospedaria, veterinário, medicamentos, transporte dos animais, contadora, visitas aos candidatos à tutela).
* A entidade se mantém apenas com doações.
* Para ajudar na campanha dos R$ 30 mil, acesse o site chicotenuncamais.com.br .



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