Solidariedade
Chicote Nunca Mais precisa de ajuda para construir sede
Entidade fundada há uma década, em Porto Alegre, cuida de cavalos idosos abandonados
Pioneira no resgate de cavalos em situação de vulnerabilidade, a ong Chicote Nunca Mais, de Porto Alegre, definha sem um lar definitivo para abrigar os 28 animais idosos que seguem sob responsabilidade da entidade. Há quatro meses, a organização, que completa uma década neste ano, perdeu o espaço que mantinha alugado e hoje deixa os cavalos provisoriamente hospedados numa cabanha de Gravataí.
Na tentativa de reverter a situação, a fundadora da ong, Fair Soares, 69 anos, mantém uma campanha aberta no site da entidade para conseguir os R$ 30 mil necessários que pagariam a mão de obra e o material para a construção da sede própria. O terreno já existe.
— Nossos cavalos são idosos e, alguns, deficientes. O trabalho da ong funciona como uma geriatria. Nós precisamos de uma cama quentinha, um local abrigado das intempéries para poder mantê-los ali dentro. Eles não estão para doação. O que fazemos é o apadrinhamento deles — explica Fair.
A Chicote Nunca Mais surgiu por acaso, depois de Fair, que é nutricionista, deparar com uma égua morta na Avenida Assis Brasil, Zona Norte da Capital. O animal havia sido chicoteado até a morte.
— Chorei sentada ao lado dela. Ali mesmo prometi que a morte dela não seria em vão — recorda.
Naquele mesmo ano, Fair soube que a EPTC leiloaria 30 cavalos idosos e maltratados. Indignada, reuniu uma advogada e uma veterinária e exigiu da promotoria de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre que suspendesse a venda. Na época, a ong ainda não existia.
— Quando a promotora perguntou quem eu era, disse que fazia parte de uma ong de proteção aos cavalos. Ela, em seguida, perguntou o nome da ong. Fiquei em silêncio por uns segundos e lembrei da água morta na avenida. Na hora, falei: Chicote Nunca Mais! A ong surgiu assim — revela.
A promotoria acatou o pedido, mas determinou que Fair ficasse com os 30 animais. Cada um saiu pelo lance mínimo de R$ 100. A nutricionista reuniu amigos, conseguiu o dinheiro e em três dias distribuiu 17 deles a cuidadores espalhados pelo Estado. Os outros 13 ficaram com Fair. Foram os primeiros acolhidos pela ong que se formava naquele momento.
Carinho e olho no olho: os melhores remédios
Chico, um cavalo de cor marrom e olhos caídos, é o único que ainda resta daquela primeira leva de animais recebidos pela Chicote. Fair calcula que ele esteja próximo dos 30 anos de vida. Dócil, Chico gosta de afagos. Basta a amiga se aproximar e olhá-lo nos olhos para que recoste a cabeça sobre o peito da nutricionista.
— Trabalhei muitos anos em hospital, com muita gente, com humanos. Mas depois que comecei a trabalhar com cavalos, tenho certeza de que virei uma pessoa muito melhor — afirma.
A dedicação da ong vem ganhando reconhecimento. Em 2016, a Chicote Nunca Mais foi a primeira organização não-governamental a receber o prêmio Destaque Veterinário, do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV/RS). Na busca por qualidade de vida para animais que já passaram por sofrimento, a ong desenvolveu métodos para restabelecer as funções físicas deles. Os equinos recebem tratamento com cálcio e passam por terapias desenvolvidas pelo veterinário Francisco Gusso. Animais que chegaram à ong com fraturas ou problemas de marcha acabam voltando a andar depois de receberem tratamento adequado e uma boa dose de carinho.
— Tu aprende a conversar por telepatia, aprende a olhar nos olhos deles (cavalos). E quem aprende a olhar nos olhos de um animal, aprende a olhar nos olhos de gente — resume, emocionada, Fair.
Para ajudar
* A Chicote Nunca Mais ainda não possui um espaço próprio para abrigar os cavalos resgatados.
* Os animais não estão para a adoção.
* Interessados em ajudar podem se tornar tutores _ o voluntário cuida do cavalo, no seu próprio sítio, mas o animal segue sob responsabilidade da ong.
* Outra forma de ajudar é apadrinhando um cavalo _ hotelaria e alimentação podem ser pagos.
* Mensalmente, os gastos chegam a R$ 15 mil (ração e alfafa, hospedaria, veterinário, medicamentos, transporte dos animais, contadora, visitas aos candidatos à tutela).
* A entidade se mantém apenas com doações.
* Para ajudar na campanha dos R$ 30 mil, acesse o site chicotenuncamais.com.br .