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Futuro do Trabalho

Novas carreiras desafiam educação a se manter na velocidade do mercado

Mais dos que conhecimentos, instituições de ensino superior começam a estimular habilidades nos alunos que serão úteis em qualquer área. O futuro chega à educação.

27/04/2018 - 15h08min

Atualizada em: 27/04/2018 - 15h33min


Erik Farina
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Leandro Rodrigues
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Falar apenas em fim de empregos sem analisar as oportunidades abertas pela revolução em andamento no mundo do trabalho é como repetir a parábola do joio e do trigo para ficar apenas com o primeiro. Além de deixar a porta aberta para carreiras serem inovadas e reinventadas, a tecnologia cria novas ocupações.

– Segundo um estudo do Fórum Econômico Mundial, nenhuma das 10 profissões mais demandadas atualmente existia há uma década. Uma delas é a de desenvolvedor de aplicativos. Há nove anos, o faturamento com venda de apps, apenas na loja da Apple, era 1/25 vezes o faturamento da indústria de Hollywood. Em 2017, foi três vezes maior. E, em 2018, será cinco vezes maior – destaca o economista Ricardo Amorim, influente palestrante sobre novas tendências no trabalho.

É justamente nesse mercado de ferramentas digitais que está mergulhada a UX designer Juliana Dorneles, 40 anos, na DBServer, empresa sediada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). Graduada em Publicidade e Propaganda em 2001, ela passou a trabalhar com um mercado em ascensão: a criação de sites. A partir daí, começou a explorar cada vez mais suas habilidades no mundo digital.

– A sigla UX (experiência do usuário, em inglês) identifica, por vezes, o nome do profissional, o cargo que ele ocupa e também o resultado do trabalho. Trata-se de proporcionar a melhor experiência possível para o usuário em um site ou em um software – explica Juliana.

É missão dela entender as necessidades e práticas de quem vai usar o software a ser desenvolvido. E, a partir daí, acompanhar toda a criação da ferramenta, fazer ajustes e realizar testes. Nessa fase final está, por exemplo, o projeto ao qual ela está dedicada atualmente: um site de apostas na Austrália, para onde teve de viajar nos últimos meses.

– Os problemas e as necessidades desse mercado se tornaram complexos com muita velocidade, e o ensino não conseguiu acompanhar. A procura de um profissional de UX, que é multidisciplinar, para atuar em um projeto que também tem essa multidisciplinaridade, é complicada – analisa Juliana.

É no desafio do ensino diante da inovação que também pensa o diretor de Operações da ESPM Sul, Max Lacher. Ele entende que o Ensino Superior precisa trabalhar mais nas habilidades que a tecnologia vai exigir para enfrentar as novas questões.

– Se o aluno não sair preparado para aprender a pensar, se não tiver um sistema de visão, não vai avançar. Queremos estimular mais as habilidades para que os profissionais saibam enfrentar diferentes situações. Até pode haver cursos diferentes, com novos nomes, como os que já existem relacionados a games, por exemplo. De qualquer forma, esses cursos só terão relevância se superarem a parte técnica – avalia Lacher.

Entre as habilidades necessárias no novo mundo do trabalho, o Diretor de Operações da ESPM Sul destaca a capacidade de tentar sem medo de errar. 

– É que todo processo de inovação traz erros. Do contrário, não se inova nunca. É intrínseco a esse processo. Tem a ver com tentativa e erro, fazer, não dar certo, e não interpretar isso como algo negativo.

E quanto às universidades?

Se um cenário que projeta quase metade das profissões perto da extinção causa calafrios, algo semelhante ocorre com as universidades. Com a responsabilidade de formar os trabalhadores do futuro, as instituições de ensino têm se visto obrigadas a readequar a forma como ensinam e, além disso, a própria grade de conteúdos repassados aos estudantes.

De acordo com o relatório The New Work Order, divulgado pela Foundation for Young Australians (FYA), 60% dos jovens que entram no mercado de trabalho atualmente preenchem vagas que serão radicalmente afetadas pela automação dentro dos próximos 10 ou 15 anos. Especialistas têm constatado que se torna imprescindível que profissionais aprendam a se virar fora de sua área restrita de formação, tendo necessariamente de se sair bem com ferramentas digitais. 

– O novo profissional precisa ter o conhecimento básico para usar a tecnologia, seja matemático ou sociólogo. A tecnologia permeia todos os setores – afirma Luís Lamb, pró-reitor de Pesquisa da UFRGS e integrante do Comitê Gestor da Comissão Especial em Algoritmos, Combinatória e Otimização da Sociedade Brasileira de Computação (SBC). 

Alinhado a esse movimento, neste ano a PUCRS lançou as primeiras três certificações eletivas para os cursos de graduação, dentro de seu projeto PUC 360º. Não por coincidência, as três transitam pela tecnologia: Comunicação Digital, Formação em YouTube e Conteúdo e Divulgação de Moda.

O objetivo é complementar o currículo disciplinar do aluno com lições ligadas à tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo, além de estimular a habilidade dos alunos para lidar com equipes multidisciplinares – uma realidade em empresas sob constante mudança. Alunos de qualquer curso podem escolher as certificações que julgarem mais promissoras, de acordo com cada caso.

– Procuramos enxergar quais competências são exigidas dos profissionais atuais, levando em conta a tecnologia e valores como ética, questões ambientais e diversidade – explica Adriana Kampff, diretora de Graduação da PUCRS.

Além de adaptações curriculares, a proximidade de parques tecnológicos com as salas de aula surge como um passo crucial para estimular a participação de jovens em palestras e cursos complementares que envolvam inovação. Na Unisinos, alunos de diferentes cursos são estimulados a conhecer o parque tecnológico da universidade (Tecnosinos) e a utilizar as estruturas da incubadora Unitec para startups.

– A relação do parque tecnológico com a universidade mostra aos alunos para onde eles podem seguir em suas profissões. A tendência é que esse tipo de aproximação se torne cada vez mais comum nas universidades de uma maneira geral – avalia Luís Felipe Maldaner, CEO do Parque Tecnológico de São Leopoldo (Tecnosinos).

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