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Ocupação Mulheres Mirabal

Grupo de mulheres pede ajuda para seguir com trabalho social em defesa de vítimas de violência doméstica

Sob o risco de serem despejadas do prédio que ocupam, elas precisam de um espaço para continuar ajudando a quem precisa. Nesta quinta-feira, mobilização ganhou o apoio da igreja

17/05/2018 - 17h54min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Lauro Alves / Agencia RBS
Caminhada pelas ruas da Capital tentou chamar a atenção para o tema

Ocorrerá nesta sexta-feira (18) mais uma reunião envolvendo o grupo de trabalho que discute a situação da Ocupação Mulheres Mirabal, que ocupa há um ano e seis meses o prédio onde antes funcionou o Lar Dom Bosco, da Congregação dos Irmãos Salesianos, no Centro de Porto Alegre. A questão a ser avaliada pelos governos do Estado e do município é o destino do movimento que ampara mulheres que foram alvo de violência doméstica. 

Antes de ser ocupado, o imóvel de três andares e pertencente à Inspetoria Salesiana São Pio X estava fechado há três anos. A principal justificativa da criação do movimento é a falta de serviços públicos direcionados a mulheres vítimas de violência doméstica ou em situação de vulnerabilidade. Neste período de ocupação, mais de 70 ficaram abrigadas no local e outras 200 passaram por atendimento. Uma delas é R., 35 anos, que, com o apoio da sogra, fugiu com os dois filhos menores das agressões constantes do companheiro. Os três atravessaram quatro Estados até chegarem ao Rio Grande do Sul e serem acolhidos pelo movimento. 

— A Justiça gaúcha ofereceu abrigo apenas para as crianças, mas não queria me separar dos meus filhos. Aqui, tivemos assistência psicológica e todo o apoio. Encontramos uma família. Se nos tirarem daqui, voltaremos para a rua — relata R., que ainda procura um emprego. 

Reconhecida por orgãos públicos, como a Polícia Civil — que costuma direcionar vítimas para atendimento — e o Ministério Público, a Ocupação Mulheres Mirabal tem voluntários nas áreas de psicologia, assistência social, direito e saúde. Acompanhando a distância a questão da reintegração de posse do prédio, o promotor da Ordem Urbanística do Ministério Público Estadual, Cláudio Ari de Mello, defende uma negociação com solução definitiva para a questão.

— A prefeitura e o Estado precisam olhar com cuidado para o Movimento. Elas têm um trabalho muito importante porque oferecem um serviço quase inexistente na cidade — salienta.

A declaração do promotor vai de encontro com a atual situação da Capital gaúcha. Porto Alegre tem apenas um centro de referência.

A diretora do Departamento de Políticas para as Mulheres, Salma Farias Valencio, afirma que foram oferecidos alguns imóveis ao movimento ao longo do processo, sendo que por último o Estado ofereceu uma sala e dois apartamentos de forma provisória, enquanto aguarda a manifestação do município quanto a alguns imóveis e a posição do Movimento Mirabal a respeito. 

Apoio da Igreja Católica

Lauro Alves / Agencia RBS
Victoria Chaves (C), uma das coordenadoras do Movimento, com Padre César Leandro Padilha, entrega documento ao Dom Jaime Spengler (E), arcebispo metropolitano

Nesta quinta-feira (17), a mobilização ganhou também o apoio da igreja católica. Depois de uma caminhada pelo Centro da cidade, integrantes do Movimento foram recebidos pelo secretário-executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre César Leandro Padilha, e tiveram seu apelo ouvido também pelo arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Frei Jaime Spengler. 

— Conhecíamos o trabalho delas pelos meios de comunicação, mas precisamos estar presentes nesta luta. Vamos acionar os órgãos da Igreja que atuam na área de direitos humanos, como a Cáritas Brasileira e a Pastoral do Migrante, para que façam parte das negociações — afirmou padre César.

O jornal contatou com a Congregação, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social informou que só se manifestará depois da reunião desta sexta-feira. 

QUEM FORAM AS MIRABAL

— Patria, Minerva e Antonia María Teresa Mirabal eram irmãs que viviam na República Dominicana.

— Conhecidas como irmãs Mirabal, formaram um grupo de oposição conhecido como Las Mariposas. 

— As três foram presas e torturadas, mas continuaram lutando. Em 25 de novembro de 1960, ao comando de Rafael Leónidas Trujillo, foram interceptadas quando seguiam para visitar os maridos na prisão, sendo estranguladas e apunhaladas até a morte.

— Elas foram assassinadas por se oporem à ditadura de Trujillo. 

— As mortes causaram comoção na República Dominicana, levando o povo a se levantar contra o regime de Trujillo, que acabou assassinado em maio de 1961. 

— Em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou que 25 de novembro é o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher, em homenagem ao sacrifício de Las Mariposas.



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