Coluna da Maga
Magali Moraes e uma madrugada na estrada
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Fazia tempo que eu não viajava de ônibus à noite. No último sábado, em função da falta de combustível e dos cancelamentos de voos, decidi voltar de ônibus de Floripa logo depois do casamento de amigos do coração. Tudo pra garantir que eu pudesse acordar o filho aniversariante no domingo e me despedir do marido que viajava de tarde. A gente faz cada gincana pra conciliar todos os amores. E uma noite mal dormida não é nada perto da certeza de chegar em casa.
É parte da experiência acordar no meio da estrada sem saber em que lugar no mapa a gente está. Após dois bloqueios com direito a pneus queimados e clima tenso, a próxima parada foi dentro do previsto. Vinte minutos pra esticar as pernas, fazer um lanche e ir ao banheiro. Muito prazer, São João do Sul! No restaurante, só havia gatos pingados atrás de um pingado quentinho. Os atendentes pareciam ainda mais sonolentos do que nós. Trabalhar na madrugada não deve ser fácil.
Tocaiando
Lesada pelo sono, o medo era um só: ficar pra trás. Imagina perder a hora no banheiro e o ônibus ir embora, esquecendo alguém? Joga água na cara, guria!! Arregala esses olhos!! Fiquei tocaiando os motoristas. Um deles abocanhava um espetinho do bufê. O outro via TV. No estacionamento enorme e deserto, a neblina dava um ar de suspense. Apenas dois ônibus. Opa! Quatro motoristas! E se eu confundisse os meus? Pra acordar, comi um pão de queijo dormido. O estômago sempre alerta.
Existe um universo desconhecido de salgadinhos, balas e biscoitos à venda num restaurante de beira de estrada. Queria ter mais tempo pra analisar aquilo tudo. Mas fixar nas embalagens e perder de vista os motoristas? Capaz! O outro ônibus se foi. Paguei logo e voltei pro meu lugar. Antes de partir, feito pais zelosos, eles conferiram as nossas presenças. Coincidência ou não, adormeci e acordei em Porto Alegre. Quinze minutos depois, eu já estava na minha cama. E o aniversariante, sonhando.