Coluna da Maga
Magali Moraes e as famílias de comercial de margarina
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Alguém aí conhece um raro exemplar dessas famílias perfeitinhas? Aquelas inventadas pela publicidade, sem sal, onde todo mundo acorda sorridente pro café da manhã? Até nas propagandas elas estão em extinção (ainda bem). Ninguém mais se identifica. O conceito de família mudou tanto que, hoje, é impossível resumir um universo de possibilidades num único modelo. Se você ainda achar na TV um comercial de margarina, pode apostar: serão quatro na mesa. O pai, a mãe e um casal de filhos. Todos loiros, brancos e faceiros.
Na vida real, é mãe solo criando filho. Mulher sustentando marido. Ex-marido e ex-mulher se suportando (ou convivendo civilizadamente). Novos relacionamentos que misturam os seus, os meus, os nossos filhos. Casais do mesmo sexo esbanjando amor e cumplicidade. Pais que se afastam dos filhos e vice-versa. Amigos que formam um forte núcleo familiar. Casais decididos a terem só filhos caninos e felinos. Viúvos que casam com a melhor amiga da falecida (e ninguém tem nada com isso).
Treta
Família de comercial de margarina é mais falsa do que as fake news. Não dá pra acreditar de jeito nenhum. Sabe por quê? Não me interprete mal, mas a verdade é que família é sinônimo de treta. Confusão. Picuinha. Briguinhas. Notícias boas e ruins. Reviravoltas. Dramas e tramas que nem os mais criativos autores de novela conseguem imaginar. A graça de uma família é justamente ser humana, cheia de erros e acertos (tentativas que sejam).
Quanto maior a família, mais rolo. Tá tudo bem. É o sangue que pulsa. Os laços que atam e desatam. Os que somem, os que chegam, os que voltam, os que fazem falta, os que fazem de tudo pra manter o seu lugar na mesa. O que seria de nós sem o tio que faz a piadinha do pavê ou pá comê? Mil vezes a família que se reúne pro churrasco e briga até pra fazer salada do que acreditar na perfeição idealizada. É assim na minha casa, na tua, na deles. Somos todos loucamente normais.