Papo reto
Manoel Soares e os mimados da favela
Colunista fala do erro que pais cometeram ao tentar compensar ausência comprando bens fora da condição financeira da família
Com a vontade de não deixar faltar nada na vida dos filhos, muitos pais acabaram, sem querer, criando uma geração de mimados. No início dos anos 2000, abatidos pela culpa de não estarem próximos como gostariam, pais buscaram compensação dando presentes que iam além da sua condição financeira.
Na outra ponta, havia filhos que faziam uma promessa covarde dentro de casa: se não tivessem um tênis bacana ou um telefone legal, buscariam esses bens na rua. Esse discurso assustou, e pais e mães preferiram oferecer luxos que não eram compatíveis com a renda da família no lugar de impor disciplina. Uma equação com os fatores covardia e equívocos produziu adolescentes e jovens que não conseguem ouvir "não".
Regras básicas
Outro local onde podemos identificar essa fragilidade é na escola. Quanto mais as séries avançam, maiores são os números da evasão de alunos. As exigências de concentração e comprometimento afastam os mais fracos da rotina, sem trabalhar durante o dia e estudar à noite. Esses resultados acabam deixando pais frustrados. Não sabem onde erraram.
A verdade é que, preocupados em dar aos filhos tudo o que não tiveram, esquecem de oferecer o que tiveram. Dificuldades corriqueiras da vida deixam nossos filhos mais fortes. Lavar um banheiro, fazer uma comida ou lavar a própria roupa não mata ninguém. E boa nota não é mérito, mas obrigação.
Esquecer dessas regras básicas pode escravizar nossos filhos em um mar de preguiça que rouba deles a capacidade de lutar por uma vida melhor. Como pais, não temos o direito de aleijá-los.