Porto Alegre
Grupo de mulheres do Morro da Cruz complementa a renda com artesanato feito de materiais reciclados
O Clube de Reciclagem existe desde o ano 2000 e também promove oficinas para quem quer aprender
Para um grupo de mulheres do Morro da Cruz, em Porto Alegre, desperdício é uma palavra praticamente inexistente. Lá, tudo o que poderia ir para o lixo é reaproveitado. Meias-calças e náilon de guarda-chuvas, por exemplo, são transformados em colchas. Gravatas viram saias. Forros de bolsas são transformados em fuxicos. Restos de couro são usados para fazer casacos.
O Clube de Reciclagem do Morro existe desde o anos 2000 e é coordenado, desde, então por Eva Fátima de Jesus Paula, 60 anos, mais conhecida como tia Eva. Atualmente, é formado por aproximadamente 50 mulheres, entre avós, mães e filhas, que usam a criatividade para transformar resíduos em roupas, artigos de decoração, acessórios ou no que puder ser feito.
União de gerações
O material usado pelas artesãs vem de diversos locais. Um das instituições que fornece é a Defesa Civil, que encaminha utensílios doados para a Campanha do Agasalho que não puderam ser utilizados.
– Muitas mulheres chegam aqui com medo de não saberem fazer as coisas, acham que não vão conseguir. Mas umas vão ensinando as outras e todas acabam aprendendo de tudo: costurar, fazer fuxico, tricô, o que seja – relata Eva.
Como Élida Severo Nunes, 73 anos, que faz parte do grupo desde o primeiro dia. No Clube, a aposentada aprendeu a fazer fuxico e hoje faz colchas com a técnica. A última que fez tem 1.400 fuxicos e demorou cerca de quatro meses para ficar pronta.
Já Roseli da Silva, 41 anos, substituiu a agulha pelos próprios dedos. Da ideia, já resultaram tapetes, bolsas e cortinas.
– Só o dedo pode substituir a agulha. Fica até mais fácil, assim não tenho o problema de perder as agulhas – explica.
Para Regina Moura, 48 anos, o Clube já vem de gerações. A mãe dela, Maria Diva, 71 anos, frequenta o grupo, assim como as quatro filhas da costureira, que também levam seus filhos. Mas, além de ensinar técnicas de artesanato, Regina conta que o Clube de Reciclagem tem um papel muito maior na vida dela.
– O Clube é tudo para mim. Antes, eu tomava remédios para ansiedade e depressão, agora não tomo mais. A cabeça funciona de outra forma, tu passa a ver as coisas de outra maneira. Vê que as coisas sempre tem uma serventia, não precisa jogar no lixo ou comprar outras novas – diz Regina, cheia de empolgação.
Fonte de renda
Em momentos de dificuldade financeira, Regina conseguiu manter a família só com a renda gerada pelo artesanato. E conta que o Clube também foi significativo no momento de educar os filhos:
– Todos os meus filhos têm uma visão diferente das roupas, dos calçados. Do saber guardar e valorizar as coisas.
Além dos trabalhos artesanais, algumas mulheres do grupo tem outra função: são modelos. As “top avós”, como são chamadas, desfilam as peças confeccionadas no próprio Clube. Élida é uma das tops:
– Nos sentimos poderosas. Estamos vivendo agora um sonho da juventude – brinca.
O Clube de Reciclagem participa com frequência de feiras e exposições para comercializar os produtos. Na semana passada, Eva esteve em Santa Maria representando o grupo na Feira de Economia Solidária.
– O Clube também é um complemento de renda para essas mulheres. Muitas vezes, elas tem que sustentar a família, e só o salário não seria suficiente – afirma a fundadora.
Das vendas, 15% fica para o grupo. O restante, vai para o bolso das artesãs.
/// O Clube de Reciclagem do Morro da Cruz oferece oficinas de artesanato reciclagem e também recebe doações.
/// Para falar com o grupo, entre em contato pelo (51) 3318-1647