Desfalque no bolso
Consignado pode virar armadilha nas contas dos idosos; saiba avaliar quando usar
Confira como planejar o uso do consignado quando for necessário
De mecanismo importante para inclusão do idoso no sistema financeiro nacional, o crédito consignado tem se tornado uma preocupação para as contas. Conforme dados do Banco Central, a quantidade de empréstimos a aposentados com desconto na fonte cresceu 16% nos primeiros cinco meses deste ano, na comparação com mesmo período do ano passado, chegando a R$ 30,2 bilhões distribuídos.
Com o crescimento das dívidas, tem subido a quantidade de idosos inadimplentes. Em maio deste ano, 34,5% dos brasileiros com mais de 61 anos estavam com contas atrasadas, segundo levantamento nacional da Serasa Experian — em 2016, este índice era de 32,1%. Embora não seja a faixa mais elevada, foi a que mais cresceu nos últimos dois anos.
– Muitos destes empréstimos são feitos sem planejamento, inclusive em benefício de filhos ou netos. O problema é que vão corroendo a pensão do idoso e cada vez sobra menos dinheiro para passar o mês ou lidar com emergências – explica o presidente da Federação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Rio Grande do Sul (Fetapergs), José Pedro Kuhn.
Consignado vira tentação
Nem sempre o consignado é uma cilada, claro. É uma das opções de crédito mais baratas no país: conforme o Banco Central, os juros variam de 1,61% a 2,12% ao mês – para efeito de comparação, o juro do crédito pessoal contratado no caixa dos bancos gira em torno de 4% ao mês, conforme a Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
– Trocar uma dívida mais cara, como cartão de crédito ou cheque especial, por uma mais barata, como o consignado, é uma opção que compensa, e evita que as contas virem uma bola de neve — afirma o educador financeiro José Vignoli.
Planeje o uso do consignado
- Evite ao máximo usar seu nome para tomar empréstimos a terceiros, incluindo familiares. São estes os casos em que há maior risco de inadimplência.
- Se receber uma ligação de financeira ou oferta de crédito na rua, evite tomar uma decisão na hora. O ideal é analisar o empréstimo com frieza, simulando quanto terá de pagar por mês e avaliando se não fará falta no orçamento.
- O consignado pode ser uma boa escolha para quitar operações de empréstimo mais caras, como o rotativo do cartão de crédito ou cheque especial. Mas lembre-se: ter dívidas demais, mesmo no consignado, nunca é uma boa.
- Procure não comprometer mais de 25% da renda com o consignado, pois isso significará que você terá apenas 75% da remuneração para passar o mês e encarar imprevistos de saúde.
- Caso perceba que não conseguirá quitar as próximas parcelas, procure a instituição financeira e tente negociar. É possível que o banco ofereça uma alternativa de refinanciamento, com prazos mais longos e taxas mais baixas.
- Outra opção é transferir a dívida para uma instituição que ofereça condições melhores, a portabilidade de crédito. Neste caso, basta procurar o banco ou financeira para o qual pretenda transferi-la que eles se encarregarão da burocracia.
Como funciona o crédito consignado
- Devido à maior garantia de pagamento (é descontado diretamente do contracheque ou do benefício recebido pelo INSS), o empréstimo consignado é uma das modalidades com maior facilidade e rapidez de contratação.
- É também uma das modalidades mais baratas, já que os juros não passam de 2,12% ao mês.
- Em muitos casos, mesmo se o cidadão estiver com nome sujo ou negativado, o consignado costuma ser concedido.
- Em geral, não é preciso ser correntista do banco em que se queira pedir o empréstimo consignado. Apenas no caso de funcionários de empresas privadas, é preciso que haja vínculo entre as instituições.
- Aposentados e pensionistas também não precisam necessariamente fazer o pedido na Caixa Econômica Federal. O cliente é livre para escolher a instituição com menores taxas e maiores benefícios, inclusive em financeiras.
- Segundo a Lei 10.820/2013, o somatório dos valores das parcelas de consignados não pode ser superior a 35% do salário ou benefício do solicitante.
- Além disso, 5% do limite só poderá ser utilizado no cartão de crédito consignado (um cartão específico para essa finalidade, com desconto do valor mínimo da fatura feito direto da folha ou benefício).
Fontes: Banco Central, Fetapergs e consultor financeiro José Vignoli