Papo Reto
Manoel Soares: "Criança não é cachorro"
Colunista comenta que a cabeça das pessoas precisa mudar quando o assunto é a preferência ao se entrar na fila de adoção
Conversando com uma menina de 12 anos, meu coração apertou hoje. Ela, por conta de problemas familiares, teve de ser afastada dos pais aos cinco anos de idade. Passou de abrigo em abrigo até chegar a uma casa-lar, espaço onde crianças disponíveis para adoção aguardam chegar sua vez.
Ela foi separada também dos irmãos que, por causa da idade e comportamentos, precisavam ficar em outro espaço. Um desses irmãos, em uma fuga desses locais de acolhimento, acabou morrendo afogado.
Ela me contou tudo isso com um sorriso no olhar. Quando perguntei se ela tinha sonho, ela me disse: ser adotada. Hoje, temos 620 crianças na fila de adoção, e mais de 5,6 mil pais na lista de espera. Teoricamente, sobrariam pais e faltariam crianças se de cada dez na lista de espera, nove não quisessem crianças brancas de até seis anos. Já acho feio escolher adotar cachorro dependendo da raça e tamanho, fazer isso com crianças é crueldade.
Esperança da criançada
Por outro lado, de cada dez crianças que sonham ter um lar, somente uma está no perfil que esses pais da lista desejam. Essa discriminação provoca um sentimento de rejeição nas crianças que sonham ter uma família. Nesta semana, foi lançado no Estado um aplicativo de celular para aproximar crianças que sonham ter uma família e pais que sonham em ter uma criança.
Mas a cabeça das pessoas tem que mudar, vai ser preciso mais do que um aplicativo para levar alegria aos corações cheios de esperança dessa criançada. Se você que está lendo quer conhecer o amor de verdade, cogite adoção, você vai se surpreender com o que vai receber.