Coluna da Maga
Magali Moraes e a academia do prédio
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Tem lugares que não foram feitos pra mim. Não despertam a menor curiosidade. Dão até um certo arrepio. Me provocam claustrofobia. Onde não tenho vontade nenhuma de entrar. Muito menos frequentar. A academia do meu prédio, por exemplo. É como se ela estivesse no cume inalcançável de uma montanha, apesar de ser no andar térreo. É como se eu precisasse ultrapassar armadilhas perigosas pra chegar até ela, mesmo passando na sua frente várias vezes ao dia.
A porta aberta da academia não me convida, não me convence. Se eu entrar, vai ser pra salvar alguém. Pra ver no espelho se tem alface no meu dente. Esse é o problema: espelho de academia é cruel demais. Aposto que vou me sentir naquelas salas de parque de diversões, com espelhos que deformam e riem da gente. Prefiro imaginar uma porta de filme de terror, onde é aconselhável não entrar e fugir correndo das esteiras assassinas. Daqui posso escutar o barulho! Socorro!!
Caneleiras
Em meus piores pesadelos, fico trancafiada e suada na academia do prédio. Pesos de cinco quilos colam em minhas mãos. Caneleiras se fecham em meus tornozelos. Colchonetes queimam a minha pele. Toalhinhas bordadas me sufocam. Supinos demoníacos me fazem suportar toneladas. E quando consigo me soltar, anilhas voadoras são lançadas em minha direção. Um kit de crossfit me encurrala num canto. Bicicletas ergométricas, em velocidade máxima, me prendem num circuito eterno.
Acordo jurando que vou começar a caminhar. Na rua! Respirando ar puro. Olhando árvores e nuvens. Já me livrei da esteira que morava lá em casa. No seu lugar, fiz um cantinho fofo pra escrever. Bem que podiam transformar a academia do prédio numa cafeteria charmosa. Que delícia abrir a porta já sentindo o aroma do café! Convidar uma vizinha pra tomar capuccino e conversar. Em vez dos equipamentos, poltronas pra ler. E cobrindo a parede de espelho, uma estante cheia de livros pra exercitar o cérebro.