Coluna da Maga
Magali Moraes: quando chove flor
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Por um momento, esqueça a rinite. Os olhos inchados. O nariz trancado. A garganta arranhada. A voz falhada. Sim, a primavera maltrata os alérgicos. Mas não vamos ser injustos. Ela cria cenários que são pura poesia! Quando os ipês de Porto Alegre florescem todos de uma vez, as calçadas se transformam em tapetes de flor. O cinza da cidade ganha um colorido que mistura roxo, rosa e amarelo. Somado ao verde das folhas das árvores, está feita a cartela de cores que embeleza o cotidiano.
A maioria dessas florzinhas gosta de cair no chão em câmera lenta. Como se tivessem paraquedas nas costas e controlassem perfeitamente a descida. Outras se distraem no meio do caminho e pousam suaves em bancos de parques, mesinhas de rua, telhados e parapeitos de janelas. Alguém vai dizer que dá um trabalhão varrer tudo. Que as malditas flores entopem bueiros e grudam feito cola na lataria dos carros. Poxa vida, cadê a magia nesse coraçãozinho?
Nuvem fofa
Prefiro me render aos ipês. Se eu morasse em casa, deixaria minha calçada virar uma nuvem fofa de flores. E chamaria as crianças pra se jogarem nela. Falando em nuvem, esses dias tomei um banho de chuva especial. O céu estava azul. Choveu flor, acredita? Uma fina garoa, que demorou a parar. E eu nem queria. No lugar onde trabalho, mora um gigante ipê amarelo. Ele se aproveitou do ventinho forte e deu show. Tinha até raio de sol. Difícil descrever essas lindezas primaveris.
Você já viu fotos aéreas que mostram nossas ruas vistas de cima, com as copas dos Ipês formando longos caminhos floridos? Dá um Google pra ver. Por mais que a gente espirre feito louco, aguenta firme que vale a pena. A outra opção é sair de casa usando máscara. Ou só enxergar o pavoroso festival de fios de luz que riscam o céu e se intrometem nos galhos das árvores. No verão, nós só vamos procurar sombra, não flor. No outono, tudo vai secar. A beleza dos ipês acontece agora. Aa-tchim! Saúde!