Obra da nova ponte do Guaíba
Primeiras 142 famílias da Ilha dos Marinheiros fecham acordos para deixar o local
Número é resultado da primeira etapa do projeto Audiências Coletivas de Conciliação
Em três dias, 142 famílias impactadas pela construção da nova ponte do Guaíba assinaram acordos para deixar o local. Este é o resultado da primeira etapa do projeto Audiências Coletivas de Conciliação, no qual os moradores acertam com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) valores de indenização para sair da Ilha dos Marinheiros.
Até o final do ano, a previsão é de que 450 famílias participem dos mutirões de conciliação, que seguirão ocorrendo nas próximas semanas. No total, incluindo a Ilha e as Vilas Areia e Tio Zeca, no continente, 1.089 famílias e 33 comércios terão de ser realocados devido às obras da ponte. Quando a obra chegar a 90% – atualmente, está 70,3% concluída –, os trabalhos só irão avançar sem a presença dos moradores. A ponte do Guaíba foi incluída como prioridade no “livro de transição” elaborado pelo governo Michel Temer para o presidente eleito Jair Bolsonaro. No documento, foi considerada como obra urgente para 2019.
Saldo positivo
De acordo com o juiz federal da 26ª Vara Federal de Porto Alegre (Conciliação) e coordenador regional adjunto do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejuscon), Hermes Siedler da Conceição Junior, o saldo dos encontros é positivo.
– A opção da compra assistida (em que o Dnit compra uma casa sugerida pela família), da forma proposta, possibilita que a pessoa passe a ter uma perspectiva de vida totalmente diferente daquela que ela tem até agora – afirma o juiz.
O procurador-chefe do Dnit, Alcemar Cardoso da Rosa, explica que o departamento está fazendo o máximo possível para agilizar as mudanças, fundamentais para a continuidade das obras:
– O projeto está fluindo maravilhosamente bem. A expectativa é de que, em dois meses, as famílias não estejam mais no local, para continuar com os trabalhos.
De acordo com Alcemar, o departamento está agilizando a questão burocrática e auxiliando os moradores, inclusive realizando as mudanças dentro do Estado.
“Estou contente”
A recicladora Patricia da Silva Padilha, 41 anos, que mora na Ilha dos Marinheiros há 18 anos, é uma das que aderiu à compra assistida. Ela conta que, inicialmente, pela falta de informações sobre o projeto, não gostou da ideia de mudar-se:
– Agora, estou contente. Vou ter um outro estilo de vida.
A nova casa será em Esteio, onde irá residir junto com o marido e dois filhos. Ao lado da casa, Patricia sonha em colocar um comércio, para deixar a reciclagem no passado.
Alegria de uma, indecisão de outra
Assim como Patricia, a doméstica Adriana Rodrigues, 37 anos, presente à audiência ontem, estava ansiosa pela mudança e pelo acordo com o Dnit. Agora, com o contrato em mãos, está feliz por saber que, em breve, estará se mudando para uma nova casa.
– A casa que escolhi é muito boa, fica em Eldorado do Sul – conta.
Já a recicladora Cláudia Regina da Silva Melo, 37 anos, ainda sente-se apreensiva com o processo. Mãe de nove filhos, não definiu onde irá morar no futuro e está procurando um novo lar.
– Agora, preciso pensar uma nova forma de vida, vou ter que mudar a minha rotina. A cabeça ainda não está sabendo lidar com tudo isso. Mas preciso levar a vida para a frente para não deixar a peteca cair.
A maior preocupação de Cláudia é com os filhos, que precisarão deixar o colégio e os amigos.
– A gente não tem escolha, nascemos ali e vamos ter que sair. Eu não queria, sinceramente. Mas não tem o que fazer, a ponte vai passar em cima da minha casa.
Loteamento ainda depende de liberação
Além da compra assistida das casas, outra opção oferecida aos moradores é a mudança para um loteamento a ser construído na região das Ilhas. Porém, segundo o procurador-chefe do Dnit, Alcemar Cardoso da Rosa, o departamento precisa de autorização da prefeitura de Porto Alegre, que precisa fornecer o Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU), para dar continuidade ao projeto.
– Estranhamente, a prefeitura de Porto Alegre não quer fornecer o EVU. E nós, como somos órgão público, não conseguimos construir sem ter este documento – conta o procurador-chefe, que cogita, inclusive, entrar com ação contra a prefeitura para obter a liberação.
Em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) de Porto Alegre, a arquiteta e coordenadora da Comissão de Análise e Aprovação Demanda Habitacional Prioritária (CAADHAP), Gisele Coelho Vargas, afirmou que o projeto foi aprovado em primeira fase – que inclui ruas, quadras, escolas e postos de saúde. Entretanto, há uma outra obra que pode acontecer no local, desenvolvida pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), de contenção de cheias. Por isso, ainda são necessários mais estudos do local.