Iniciativa Popular Estudantil
Cursinho gratuito de Gravataí precisa de ajuda para continuar em 2019
Aulas já ajudaram 30 estudantes a ingressar no Ensino Superior
Ajudar a realizar o sonho de entrar no Ensino Superior: este é o objetivo da Iniciativa Popular Estudantil (Ipe), cursinho pré-vestibular gratuito de Gravataí. O projeto começou em 2016, pelas mãos da então estudante de História da UFRGS Camila Alves Pereira, hoje com 25 anos, junto com dois colegas.
– Vi uma reportagem na TV sobre uma pesquisa. Dizia que muitos jovens de baixa renda sequer têm a chance de se preparar para entrar em uma universidade pública. Pensei: por que não ajudar? – diz a moradora da Cohab A e coordenadora do Ipe.
Em 2016, a iniciativa começou o ano com seis professores e 80 alunos. Em 2018, o grupo chegou a 23 professores, além de outros voluntários, como a pedagoga Lavínia Garcia, e mais de 120 alunos ao longo do ano, que utilizam duas salas cedidas pela Escola Municipal de Ensino Médio Santa Rita de Cássia. Em contrapartida, os alunos da escola têm prioridade para ocupar as vagas no cursinho. Nos dois primeiros anos, cerca de 30 estudantes conseguiram entrar no Ensino Superior, entre os que passaram em universidades públicas e receberam algum tipo de bolsa em instituições particulares.
Com o crescimento, porém, fica cada vez mais difícil manter as aulas, como explica o vice-coordenador, Maicon Machado Camargo, 30 anos, soldador:
– Todos os nossos professores são voluntários e os alunos não pagam mensalidade. Para cada prova, precisamos providenciar as folhas e pedir para o pessoal da escola imprimir. Sem ajuda, não sabemos se poderemos manter as aulas no ano que vem.
Dificuldades
A ajuda necessária passa por coisas básicas, como folhas de ofício e giz. No ano passado, os professores montaram uma apostila para facilitar o ensino, que foi repassada aos alunos pelo preço de custo: R$ 45. Nem todos os estudantes tinham o dinheiro para desembolsar.
– Fazemos campanhas ao longo do ano, promovemos eventos, nos unimos para divulgar a iniciativa e pedir dinheiro em sinaleiras. Assim, vamos conseguindo o que é necessário. Já compramos um projetor para ajudar nas aulas, mas não temos computador. Para imprimir material, pedimos a ajuda da escola ou fazemos fora – relata Camila.
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Os professores, aliás, também passam por dificuldades.
– Quase todos eles ainda são estudantes, não recebem salários, e moram em várias cidades da Região Metropolitana. Eles tiram do próprio bolso o valor das passagens. Muitas vezes, acabam desistindo. Se pudéssemos ao menos ajudá-los com isso, com certeza teríamos mais voluntários – diz Maicon.
O sonho da sede própria
Desde o início, as aulas do cursinho ocorrem no turno da noite na escola Santa Rita. A instituição também permite que os alunos do projeto utilizem a estrutura em geral. Porém, a prefeitura de Gravataí pretende fechar as vagas de Ensino Médio na instituição até 2024. Com isso, Camila teme que o Ipe seja prejudicado:
– Não sabemos se poderemos continuar lá. Por isso, nosso maior sonho é ter uma sede própria.
Com um local próprio, o Ipe poderia promover mais eventos, como palestras e simulados, durante os finais de semana, além de oferecer turmas durante a manhã e a tarde.
– A escola nos recebe com toda a boa vontade. Não podemos reclamar, mas também não podemos exigir ainda mais. Com um espaço próprio, poderíamos ir além – finaliza Camila.
Futuro
Aluno do 3º ano da Santa Rita durante a tarde e do Ipe à noite, Irã Pereira Goulart, 17 anos, aprova o trabalho desenvolvido.
– São jovens ensinando para outros jovens, a linguagem é compreensível. Não prepara só para o vestibular, também ajuda na escola – diz.
Irã fez o Enem no mês passado e espera conseguir uma bolsa para estudar História. No futuro, quer ser professor:
– Quem sabe, não dou aulas no Ipe? Assim como está sendo bom para mim, posso ajudar outras pessoas.
Como ajudar
/// O Ipe precisa de material para as aulas, como folhas de ofício e giz, e equipamentos, como computador e impressora.
/// Os coordenadores estimam que o valor necessário para fornecer as passagens para os professores seja, em média, R$ 500 por mês.
/// Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelos telefones (51) 98128-7877 (Maicon) e (51) 98494-6412 (Camila) ou pelo e-mail iniciativapopular estudantil@gmail.com.