Chora Cavaco
Renato Dornelles: Evoé! Teremos desfiles
Colunista escreve sobre o samba e o Carnaval
Em tempos de discursos intolerantes, em que setores radicais da sociedade lutam contra o que lhe desagrada, mesmo que sem interferência em suas vidas, e que uma parcela humilde vive uma carência cada vez maior de lazer e de espaço para a manifestação da cultura popular, a volta dos desfiles de escolas de samba em Porto Alegre deve ser saudado. Não só por quem gosta, como também pelos que são livres de qualquer preconceito.
E pouco importa que os desfiles sejam realizados de forma simples, sem a pompa e o luxo do chamado Carnaval espetáculo. Lembro-me de minha infância e parte da adolescência, quando as fantasias eram confeccionadas em casa, sem os grandes ateliês, e poderiam ser vistas não só nos locais de desfiles (coreto central e nos bairros), como pelas ruas da cidade, durante os quatro dias.
Naquela mesma época, nos anos 1970, cerca de 30 mil pessoas lotavam as arquibancadas montadas na Avenida João Pessoa e, depois, na Loureiro da Silva, chamada de Perimetral. Quem não conseguia ingresso, chegava cedo, com banquinhos, e marcava território nos setores em que cordas ou cercas separavam o público dos desfiles.
Iniciativa
E foi assim que o Carnaval começou a crescer. Como diz o Mestre Nilton Deoclides Pereira, atual presidente da Bambas da Orgia, há momento em que é preciso dar passos atrás. Retomar a simplicidade é necessário no momento. A iniciativa dos presidentes das seis escolas que já optaram por desfilar – Imperadores, Bambas, Restinga, Imperatriz, Vila do IAPI e Império – precisa ser respaldada.
Em tempo: a palavra "evoé", usada no título, é uma expressão de exaltação utilizada desde a antiguidade, para evocação aos mitológicos deuses Baco (Roma) e Dionísio (Grécia).