Coluna da Maga
Magali Moraes e os domingos sem ela
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Sogras são odiadas por noras e vice-versa. É o que dizem por aí. Então eu vivi a exceção da regra. Desde o primeiro dia em que botei os pés no apartamento de Tramandaí do meu namoradinho de verão (também conhecido por Ricardo, grande amor e marido), ela me tratou superbem. Por anos e décadas, me senti uma filha. Dividimos, sem ciúme algum, o amor pelo mesmo homem. Dividimos também risadas, expressos, dicas de moda e decoração, receitas doces e salgadas.
E agora? Como vão ser os domingos sem a dona Elcy? Minha sogra morreu segunda, 11 de fevereiro, à noite. Esse foi o motivo de eu não ter escrito a coluna de quarta, dia 13. Um câncer teimoso voltou e consumiu sua saúde. Mas dolorido mesmo foi testemunhar tudo que o Alzheimer tira de uma pessoa. A rainha das cruzadinhas e da canastra não acompanhava mais as conversas, a TV, as datas dos aniversários, o crescimento dos netos e bisnetos. E eu me preparava pro dia em que a dona Elcy não nos reconhecesse mais.
Faceira
Nosso último domingo foi 10 de fevereiro. Se bem que aquela senhorinha definhando em cima da cama não se parecia mais com a sogra faceira que eu tive. A que estava sempre pronta pra passear, comer, viajar, se divertir. Que se deu de presente um festão de 80 anos. E quase chegou nos 89. E agora? Como vão ser os encontros da família sem a dona Elcy? Vamos conseguir nos reunir, como ela tanto amava? A casa da Marcelo Gama perdeu a alma. As paredes silenciaram. A raiz rompeu do tronco.
Que a gente encontre muitas mesas pra puxar a cadeira e sentar. Com novos assuntos pra falar, que não sejam médicos e remédios. Que os álbuns de fotos e as lembranças de cada um mantenham a dona Elcy sempre viva entre nós. A vida segue, como tem que ser. Vamos! Vamos! Vamos! Ela pedia insistentemente pra ir embora de um lugar que não era a sua casa, apesar de ser. Vamos! Vamos! Vamos! Eu peço que os laços dos Moraes se fortaleçam. Do jeito que ela gostaria. Vai em paz, sogrinha.